O trabalho intermitente, apesar de formalmente vinculado à CLT, apresenta desafios que impactam diretamente a vida dos trabalhadores. Nesse tipo de contrato, a relação empregatícia não garante uma jornada fixa nem uma remuneração previsível, colocando o trabalhador em uma situação de instabilidade financeira. A convocação fica a critério do empregador, e os pagamentos são realizados conforme as horas efetivamente trabalhadas.
Os direitos trabalhistas, como férias, 13º salário, FGTS e INSS, são proporcionais às horas de serviço, o que pode resultar em benefícios reduzidos para quem tem poucos períodos de convocação. Além disso, todas as categorias profissionais podem ser submetidas a esse modelo, com exceção dos aeronautas, que possuem regulamentação específica.
Especialistas, entre eles a economista Allana Santos de Oliveira da Universidade Federal de Uberlândia MG, alertam que essa modalidade fragiliza o trabalhador, já que ele fica dependente da demanda do empregador sem garantias mínimas de jornada ou renda. Para atingir um ganho semelhante ao de um trabalhador convencional, seria necessário acumular múltiplos contratos, algo muitas vezes impraticável na realidade brasileira. A falta de previsibilidade também compromete a capacidade de planejamento financeiro, deixando o trabalhador exposto a dificuldades econômicas e sociais.
Outro aspecto preocupante é o risco de vulnerabilidade social. Como a remuneração varia conforme a disponibilidade de trabalho, não há garantia de que o empregado consiga atingir o mínimo exigido pelo INSS, podendo até mesmo perder direitos como seguro-desemprego e abono salarial. Essa instabilidade enfraquece ainda mais a segurança laboral, tornando o trabalho intermitente uma forma de precarização, apesar de sua legitimidade jurídica.
A discussão sobre esse modelo se conecta a discursos que promovem a “flexibilização” e a “modernização” do mercado de trabalho. No entanto, críticos apontam que tais conceitos frequentemente servem para desregulamentar relações empregatícias e enfraquecer proteções sociais. Para muitos jovens, a realidade da intermitência representa um dilema: aceitar uma ocupação instável ou arriscar-se no empreendedorismo sem estrutura adequada. Ambas as alternativas demonstram que, longe de oferecer benefícios ao trabalhador, a intermitência impõe desafios que comprometem sua segurança financeira e profissional.
Fonte: Agência Brasil.