Durante os dois anos do governo Michel Temer e os quatro anos de Jair Bolsonaro, tudo foi feito para enfraquecer e inviabilizar o movimento sindical, tendo por objetivo retirar direitos dos trabalhadores.
Com a chegada do governo Lula, nasceu a esperança de reversão destas políticas. Infelizmente, Lula já completou 50% do seu mandato e não foi revista nem uma vírgula das medidas praticadas por Temer e Bolsonaro contra o movimento sindical, e nem contra os direitos da classe trabalhadora.
Compreendemos que a composição do Congresso Nacional tem uma maioria de parlamentares que não só faz oposição ao governo, mas atua com objetivo claro de destruir o Brasil. Defendem os detentores do Capital em detrimento dos mais necessitados, que dependem do amparo do Estado.
Aprendi que quando as políticas perversas não são atacadas, ganham força e crescem. Vejo o presidente Lula num esforço tremendo para cumprir com suas promessas de campanha, em atender as demandas dos mais necessitados. Mas não vejo este mesmo esforço, com raras exceções, por parte daqueles que estão na direção dos órgãos que compõem o governo Lula.
Podemos citar alguns exemplos: a falta de interlocução com as bases; falta de transparência sobre a contrapartida dos investimentos sociais das empresas contempladas com empréstimos do BNDES; falta de transparência sobre as contrapartidas das empresas contempladas com isenção de impostos; ausência de combate das políticas destruidoras da extrema direita.
Sabemos que as centrais sindicais foram escolhidas pelo governo como interlocutoras da classe trabalhadora. Não temos dúvidas sobre a importância deste espaço criado pelo governo, mas na minha avaliação ainda há uma enorme distância entre as centrais e as bases. Ainda que haja esforço de comunicação por parte das centrais, isto não tem sido suficiente para que as demandas da classe trabalhadora cheguem ao governo, especialmente com a força necessária de mobilização.
Os trabalhadores também não estão sendo informados das dificuldades que o governo está encontrando, perante o Congresso, para viabilizar as pautas da classe. Está faltando transparência sobre isto.
Isto faz com que os questionamentos dos trabalhadores se acirrem, que se amplie a percepção sobre a falta de combate aos danos causados pelos dois últimos governos. Isto precisa ficar mais claro, para o fortalecimento das representações dos trabalhadores.
Este é o momento de as representações da classe trabalhadora deixarem de lado qualquer divergência que porventura tenham, e unificarem a interlocução junto ao governo. Todos: centrais, confederações, federações e sindicatos. Só assim, juntos, poderemos desmascarar os parlamentares inimigos da classe trabalhadora e dos direitos sociais. Só assim poderemos fortalecer as instituições constituídas, e cobrarmos uma ampla revisão dos ataques ao movimento sindical e aos direitos dos trabalhadores, especialmente com relação à Reforma Trabalhista de 2017.
Acredito que esta pauta poderia ser construída mediante o chamamento de um Congresso Nacional da Classe Trabalhadora, com participação efetiva das centrais, confederações, federações e sindicatos dos trabalhadores.
O meu posicionamento não tem por objetivo criticar, mas alertar e sugerir. Proponho a unidade para retomarmos a luta de classe, para alcançarmos a consciência política. Para que em 2026 obtenhamos uma representação política nacional, e nos estados, feita por pessoas que estejam à altura do que a população brasileira merece.
No próximo dia 30, vamos realizar uma Audiência Pública na ALESP (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) para discutir a política autoritária e omissa do maior grupo de alimentos do mundo, a JBS. Apesar da pauta específica, o evento pode servir de demonstração sobre o quanto a mão de obra está desvalorizada no Brasil.
Chegamos ao absurdo dos representantes da JBS culparem as políticas sociais do governo pela falta de mão de obra. Pasmem: esta é a mentalidade dos donos do maior grupo de alimentos do mundo.
Precisamos fazer com que esta gente que detém o Capital, e aqueles que estão a seu serviço, entendam que quem produz e gera os exorbitantes lucros são os trabalhadores. E que se eles estão rejeitando vender sua mão de obra para sua empresa, é porque esta paga mal e trata mal seus empregados.
Companheiros e companheiras, vamos unificar nossa luta e fazer com que empresários e aliados que não valorizam trabalhadores e trabalhadoras, que mudem de postura pela mobilização!
Artur Bueno de Camargo é presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins – CNTA
- Opinião publicada originalmente no site da CNTA
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