Filiado a:

Liberdade para mentir e confundir

Plataformas digitais e redes sociais sem qualquer regulamentação são o exemplo mais claro de que a liberdade de expressão de uma sociedade é contundente, maldosa e, muitas vezes, nefasta. Sem o compromisso ético da comunicação, não há democracia que sobreviva diante de mexericos, falatórios e do sarcasmo interesseiro que estão virando as redes sociais.

Trocamos os noticiários radiofônicos, os telejornais e os impressos, tão fundamentais em décadas passadas, por um festival do “fala quem quer, como quer e quando quer”. Não há medida, não há critério e nenhuma ética na atual comunicação destemperada das redes sociais.

Sem ninguém para controlar e nem mesmo a malfadada Lei de Imprensa decretada pela Ditadura Militar, que foi uma espécie de “cala a boca” ao jornalismo brasileiro, estamos numa terra sem dono, sem lenço e sem documento, como dizia a canção.

As plataformas, que deveriam ser uma forma de moderação dos conteúdos distribuídos pelo mundo digital, são inertes e trabalham apenas na busca do lucro fácil e das assinaturas e propagandas que pipocam a todo instante no meio de falas absurdas e de conclusões discriminatórias.

Se há condenação ao jornalismo patrocinado, onde o profissional sem escrúpulos se submetia às ordens do seu financiador, o que dizer das redes sociais, onde o patrocínio é livre para escancarar as mais absurdas notícias falsas e cretinas, que tomamos conhecimento a toda hora?

E o pior é que esse comportamento já tomou conta das grandes empresas, dos púlpitos das igrejas e, desgraçadamente, dos discursos políticos. Perdemos a vergonha na cara de mentir e os mais remotos ensinamentos da família sobre o comportamento em sociedade se tornaram um vale-tudo, onde a distorção mais esperta vence os argumentos verdadeiros.

A chamada inteligência artificial, que é manipulada pelo desejo humano, é farta em destemperos e caminhos sinuosos. Os algoritmos são desvios orientados ao desejo dos dominadores das bifurcações, levando-nos a vias estreitas e nocivamente perigosas, nas estradas do nada ao lugar nenhum.

O problema desses desvios é que corrompem a informação, mascaram os resultados e trabalham sorrateiramente para caminhos tortuosos e convincentes de que a mentira é a verdade e a verdade se torna retumbantes mentiras, quase que intransponíveis.

Onde a comunicação vai parar? Num destino sem volta, num pântano de areia movediça tão atraente e nefasta que nos afogará até a destruição total da democracia, da ética, da elegância social e dos anseios humanos, pelos quais tanto lutamos.

É praticamente um beco sem saída, se não nos preocuparmos com extremo rigor, como nossas decisões devem ser tomadas. Ou nos entregamos à mentira ou ela nos devora impiedosamente. Algum dia alguém já disse ao comentar a política: “se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come!” Estamos nesta sinuca de bico!

  • Osni Gomes é jornalista aposentado com passagens pelo rádio, jornal, televisão e assessorias diversas. Hoje é assessor de Imprensa da CONTRATUH.

O que achou da matéria? Comente em nossas redes sociais.