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Violência contra negras cresce no Brasil e expõe falhas na proteção social

O Brasil enfrenta um cenário alarmante de violência de gênero. De acordo com o Atlas da Violência 2025, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os índices de feminicídio e agressões contra mulheres seguem em patamares elevados, com um recorte racial que escancara desigualdades históricas: mulheres negras são as principais vítimas.

Segundo o levantamento, mais de 60% dos feminicídios registrados em 2024 tiveram como alvo mulheres negras, em sua maioria pobres e moradoras de periferias. O dado reforça a vulnerabilidade desse grupo, que além da violência doméstica e sexual, enfrenta barreiras no acesso a serviços públicos de saúde, segurança e justiça.

A pesquisa mostra ainda que, enquanto os índices de feminicídio entre mulheres brancas apresentaram leve redução, entre negras houve aumento significativo. Esse contraste revela que políticas públicas implementadas nos últimos anos não têm alcançado de forma equitativa toda a população feminina.

Números que chocam

  • 455 feminicídios em 2024 (alta de 176% em relação a 2015).
  • 68% das vítimas eram negras, segundo estudo da Fundação Friedrich Ebert.
  • 80% dos crimes cometidos por companheiros ou ex-companheiros, evidenciando a violência doméstica como principal vetor.
  • 3,7 milhões de brasileiras sofreram violência doméstica ou familiar em 2025, conforme o DataSenado.

Vozes de alerta

A ministra Cármen Lúcia, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, destacou recentemente que “a violência contra mulheres é gravíssima, mas historicamente as mulheres negras são as maiores vítimas”. Para especialistas, o problema não se resume à ausência de políticas de proteção, mas também à persistência do racismo estrutural e da desigualdade social.

Organizações feministas e movimentos negros apontam que a falta de investimento em políticas de prevenção, acolhimento e educação contribui para a perpetuação do ciclo de violência. Além disso, a subnotificação ainda é um desafio: muitas mulheres não denunciam por medo de represálias ou descrença na efetividade da justiça.

Desafios e caminhos

O Atlas da Violência sugere que o enfrentamento da violência contra mulheres exige ações integradas: fortalecimento da rede de proteção, ampliação de casas-abrigo, capacitação de agentes públicos e campanhas de conscientização. No entanto, especialistas ressaltam que sem políticas específicas voltadas para mulheres negras, a desigualdade tende a se aprofundar.

Mais do que números, os dados revelam histórias interrompidas e vidas ceifadas pela violência. A cada feminicídio, o país perde não apenas uma mulher, mas também a possibilidade de construir uma sociedade mais justa e igualitária.

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