O LinkedIn e a consultoria de inovação social Think Eva apresentam nesta terça-feira o resultado de pesquisa que traça o cenário do assédio sexual em ambientes profissionais on-line e off-line. O resultado do projeto “Trabalho sem Assédio” dá início a um projeto de promoção de um ambiente de trabalho seguro para mulheres dentro e fora da internet.
Um dos resultados mais importantes do levantamento feito a partir de 381 entrevistas é curto, direto e preocupante: quase metade das mulheres entrevistadas já sofreu assédio sexual. O ambiente de trabalho foi o espaço em que 47,12% das participantes afirmam ter sido vítimas de assédio sexual em algum momento e uma em cada 6 vítimas pede demissão do trabalho após passar por um caso de assédio e 35,5% afirmam viver sob constante medo.
A pesquisa indica ainda que o assédio sexual atinge as mulheres de maneira desigual. Negras (pretas e pardas) e mulheres com rendimentos menores são as principais vítimas. Dentre as que afirmaram ter sofrido assédio no trabalho, a maioria são mulheres negras (52%) e mulheres que recebem entre dois e seis salários mínimos (49%).
Quando olhamos para os rendimentos individuais, identificamos que 30,2% têm uma remuneração variável entre dois e quatro salários mínimos; 20,5% de quatro a seis; 20,2% de um a dois salários mínimos. O perfil financeiro que menos aparece é de mulheres com salários mais altos. Apenas 8,1% das respondentes indicam ter um rendimento superior a seis salários.
Os dados econômicos são coerentes com os perfis profissionais que mais apareceram na pesquisa. A maioria afirmou ocupar cargos de assistente (32,5%), posição pleno ou sênior (18,6%), estagiária (18,1%) e posições júnior (13,4%). Mulheres em cargos de direção representam o menor número, com 2,4%.
Mesmo que o número de mulheres que ocupam posições hierárquicas mais altas sejam quantitativamente menores, o assédio não deixa de ser uma realidade. Entre as entrevistadas que declararam desempenhar a função de gerente, 60% afirmou ter sido vítima de assédio. No caso de diretoras, o número chegou a 55%.
Em termos localidade, o Norte (63%) e Centro-Oeste (55%) têm uma concentração de relatos maior do que as demais regiões do país.
“O assédio sexual era, até pouco tempo, naturalizado e legitimado no ambiente de trabalho. Graças a muitas mulheres e campanhas comprometidas com tal questão, esse comportamento foi exposto à sociedade pelo que ele realmente é: uma violência de gênero que traz danos profundos e traumas irreversíveis para as profissionais”, diz Maíra Liguori, diretora de impacto da Think Eva.
Ela explica, porém, que a pesquisa deixa claro que os ambientes profissionais ainda encontram dificuldades em assumir sua parte nessa mudança cultural.
“Ao fechar os olhos para este problema, reproduzem os mesmos comportamentos que, direta ou indiretamente, protegem o agressor e reforçam um cenário perverso em que ele, por sinal, é o único que não sai perdendo. A vítima é revitimizada e excluída do mercado, a própria empresa perde talentos e a diversidade de seu corpo de funcionários, e a comunidade segue vendo a violência ser perpetuada”, destaca.