José Reginaldo Inácio, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI), concedeu uma entrevista à Revista Brasileira de Direito Sindical, onde destaca que o sindicalismo laboral enfrenta desafios originários da exploração, opressão e violência no trabalho, enquanto o sindicalismo patronal não compartilha dessas dificuldades. Segundo ele, a relação entre capital e trabalho é desigual, pois o capital dita as regras e explora os trabalhadores para manter sua riqueza. Reginaldo critica a ideia de “realidades diferentes” entre capital e trabalho, afirmando que a realidade capitalista imposta intensifica a desigualdade e a injustiça social.
Ele identifica dois desafios principais para o sindicalismo laboral: recuperar a liberdade sindical, comprometida em 2017, e superar a aversão ao sindicalismo, que ele chama de “Sindicato fobia”. Essa aversão, segundo ele, foi propagada como uma peste monstruosa, especialmente após os eventos políticos de 2016 e 2018, e é um obstáculo para alcançar autonomia sindical e combater o antissindicalismo.
Preconceito
Reginaldo explica que o sindicalista é visto como um “inimigo hereditário”, devido a um preconceito histórico alimentado por setores que consideram o sindicato um obstáculo ao capital. Essa percepção negativa é sustentada por narrativas midiáticas e políticas que buscam deslegitimar a luta sindical. Ele relaciona esse fenômeno à Sindicato fobia, um termo que cunhou para descrever a aversão ao sindicato e aos sindicalistas, manifestada desde discriminação no ambiente de trabalho até campanhas de descrédito na mídia e na política.
Ele identifica cinco formas de manifestação da Sindicato fobia:
- Perseguição de sindicalistas dentro das empresas, por meio de demissões ou pressão psicológica.
- Desconfiança entre colegas de trabalho, dificultando o vínculo entre sindicato e trabalhadores.
- Criminalização da ação sindical, reforçada por casos isolados amplamente divulgados na mídia.
- Falta de apoio familiar, onde o envolvimento sindical é visto como fonte de problemas.
- Legislação antissindical, exemplificada pela reforma trabalhista de 2017, que enfraqueceu a estrutura sindical.
Combate
Para combater a Sindicato fobia, Reginaldo destaca três estratégias essenciais: conscientizar os trabalhadores sobre a importância dos sindicatos, denunciar práticas antissindicais e pressionar por mudanças legislativas, e adaptar as estratégias sindicais para se conectar melhor com a classe trabalhadora e suas inovações tecnológicas. Segundo ele, ao acompanhar essas mudanças, os sindicatos reforçam seu papel na defesa dos direitos e na melhoria das condições de trabalho e vida.
Ele explica que criou o termo “Sindicato fobia” para nomear a aversão, medo ou hostilidade contra sindicatos e sindicalistas, uma realidade que ele percebia em diversas esferas sociais sem uma definição clara. Cita a filósofa Adela Cortina, que defende que nomear algo ajuda a revelar sua existência e impedir que ele seja ocultado.
Além disso, alerta que a Sindicato fobia afeta gravemente a saúde mental dos sindicalistas, que enfrentam constante pressão, hostilidade e desconfiança, levando a transtornos como ansiedade e depressão. Ele exemplifica como o antissindicalismo se intensificou nos últimos anos por meio da retirada de recursos essenciais para trabalhadores e sindicatos, dificultando sua sobrevivência e atuação.
Conquistas
Reginaldo enfatiza que os direitos trabalhistas fundamentais foram conquistados por meio da ação sindical coletiva e afirma que a reforma trabalhista de 2017 representou um grande golpe contra o sindicalismo no Brasil, ao precarizar as relações de trabalho e reduzir os recursos financeiros dos sindicatos. Para ele, essa reforma violou a autonomia das assembleias e reforçou práticas antissindicais.
Ele também aponta que os sindicalistas estão lidando com exaustão física e mental devido à escassez de recursos e ao ambiente hostil ao sindicalismo. Além disso, muitos perderam sua estabilidade funcional e política, aumentando sua vulnerabilidade.
Outro ponto que ele destaca é a crise de identidade do sindicalismo, que tem sido pressionado a se adaptar à lógica do mercado e da competitividade, comprometendo sua essência como movimento de luta. Essa crise afasta os trabalhadores e enfraquece a ação sindical.
Futuro do sindicalismo
Sobre o futuro do sindicalismo no Brasil, Reginaldo reconhece uma crise profunda, mas também destaca a necessidade urgente de resistência. Ele defende que o sindicalismo deve se reinventar, encontrando novas formas de organização e luta, sem perder sua identidade. Para reverter o cenário atual, sugere reconhecer a gravidade da situação, confrontar as frentes antissindicais no parlamento e no empresariado, e fortalecer a base dos sindicatos, reconectando-se com os trabalhadores.
Por fim, ele deixa uma mensagem de perseverança aos sindicalistas, destacando a importância da solidariedade, união e organização coletiva. Também ressalta a necessidade de cuidar da saúde física e mental para enfrentar os desafios com força e determinação.
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