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Sindicalismo exige reinvenção, resistência e reconexão com os trabalhadores

Em um cenário marcado por transformações profundas no mundo do trabalho, o sindicalismo brasileiro enfrenta um dos momentos mais desafiadores de sua história. A crise não é apenas institucional — ela é também simbólica, política e social. Para sobreviver e voltar a ser uma força mobilizadora, os sindicatos precisam se reinventar, sem abrir mão de sua essência como movimento de luta coletiva.

O futuro do sindicalismo passa pela capacidade de resistir à ofensiva antissindical, reconstruir sua base de apoio e adaptar-se às novas dinâmicas laborais, especialmente diante da digitalização, da informalidade e da fragmentação das relações de trabalho. Isso exige coragem para confrontar os interesses que buscam deslegitimar a ação sindical e ousadia para propor novas formas de organização que dialoguem com a realidade dos trabalhadores.

Obstáculo silencioso

Um dos maiores entraves à reconstrução sindical é o fenômeno da “Sindicato fobia” a qual se referiu José Reginaldo Inácio, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI), durante palestra num dos encontros da Contratuh, em abril passado. Ele descreveu uma aversão social, política e institucional aos sindicatos e sindicalistas. Essa hostilidade se manifesta de diversas formas:

  • Perseguição dentro das empresas, com demissões e pressões psicológicas.
  • Desconfiança entre colegas, que dificulta a mobilização coletiva.
  • Criminalização da ação sindical, amplificada por narrativas midiáticas.
  • Falta de apoio familiar, que vê o envolvimento sindical como fonte de problemas.
  • Legislação antissindical, como a reforma trabalhista de 2017, que fragilizou a estrutura sindical e comprometeu sua autonomia.

Essa fobia não apenas mina a legitimidade dos sindicatos, mas também afeta diretamente a saúde mental dos dirigentes, que enfrentam um ambiente de constante pressão, desconfiança e esgotamento.

Nomear para enfrentar

Dar nome ao problema é parte da solução. Ao reconhecer a “Sindicato fobia” como um fenômeno real e estruturado, abre-se espaço para enfrentá-lo com ações concretas: conscientização dos trabalhadores, denúncia de práticas antissindicais, pressão por mudanças legislativas e inovação nas estratégias de mobilização.

A luta sindical precisa se reconectar com os trabalhadores — não apenas como representantes formais, mas como instrumentos vivos de transformação social, capazes de acolher demandas, propor soluções e construir pontes entre o mundo do trabalho e os direitos fundamentais.

Identidade em disputa

Os direitos trabalhistas que hoje parecem garantidos foram conquistados com muito esforço por meio da ação sindical coletiva. No entanto, reformas recentes colocaram em xeque essa trajetória, precarizando vínculos, reduzindo recursos e enfraquecendo a capacidade de negociação.

Além disso, o sindicalismo vive uma crise de identidade, pressionado a se adaptar à lógica do mercado e da competitividade. Essa adaptação, quando feita sem reflexão, compromete sua essência e afasta os trabalhadores, tornando a luta sindical menos reconhecível e menos eficaz.

Reconstrução

O sindicalismo do futuro não será uma repetição do passado. Ele precisará ser mais horizontal, inclusivo, tecnológico e emocionalmente inteligente. Para isso, é fundamental:

  • Reconhecer a gravidade da crise atual.
  • Enfrentar as frentes antissindicais no parlamento e no empresariado.
  • Fortalecer a base sindical com escuta ativa e presença nos territórios.
  • Cuidar da saúde física e mental dos dirigentes e militantes.
  • Reafirmar a solidariedade, a união e a organização coletiva como pilares da resistência.

O sindicalismo não está morto — está em disputa. E essa disputa será vencida por quem tiver coragem de transformar, sem esquecer de onde veio e por quem luta.

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