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“Primo do Pix”, o “Drex”, chega só no fim de 2024

O Banco Central anunciou que o real digital se chamará Drex. Esse foi mais um passo rumo à sua implementação. Ainda segundo o BC, a moeda virtual, uma espécie de “prima do Pix”, vai proporcionar, em um ambiente seguro e regulado, a geração de novos negócios e o acesso mais democrático aos benefícios da digitalização da economia a cidadãos e empreendedores.

O projeto-piloto da moeda digital começou em março passado. A ideia é colocar a futura moeda digital trabalhando em um sistema integrado ao Pix, com a promessa de ser mais seguro, eficiente e ter menor custo de intermediação.

O nome, desenvolvido pelo próprio BC, tem o seguinte significado: “d” e “r” fazem alusão ao real digital; “e” vem de eletrônico; e o “x” passa a ideia de modernidade e de conexão, do uso de tecnologia de registro distribuído (Distributed Ledger Tecnology – DLT), tecnologia adotada para o Drex, dando continuidade à família de soluções do BC iniciada com o Pix.

Por fim, as duas setas que se incluem no “d” na logomarca da moeda têm relação com a evolução do real para o ambiente digital, reforçando o atributo da agilidade, e o uso das cores, numa transição de azul para verde claro, passa a mensagem de “transação concluída”.

Vale ressaltar que o projeto ainda está em fase de testes. À época do anúncio do projeto-piloto da moeda digital pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a meta era colocar esse sistema em funcionamento até o fim de 2024. Agora, no entanto, não foi confirmado se essa data será mantida.

Ontem, durante transmissão ao vivo online para falar do projeto, o coordenador da iniciativa no Banco Central, Fabio Araújo, disse que a nova moeda digital não é uma criptomoeda, mas apenas uma representação do real na plataforma digital, podendo ser usada para pagamentos, compra e venda de um carro ou um imóvel, para a tomada de empréstimos, dentre outras transações bancárias.

O que é o Drex?

Desde ao menos 2020 o BC estuda a implementação da moeda digital. Naquele ano, a autarquia organizou um grupo de trabalho para estudar a emissão de uma moeda digital brasileira, tendo divulgado as diretrizes gerais do projeto em maio de 2021.

Também chamado de real digital, o Drex funcionará como uma versão eletrônica do papel-moeda, que utiliza a tecnologia blockchain, a mesma das criptomoedas. Classificada na categoria Central Bank Digital Currency (CBDC, Moeda Digital de Banco Central, na sigla em inglês), a ferramenta terá o valor garantido pela autoridade monetária. Cada R$ 1 equivalerá a 1 Drex.

Como dito pelo coordenador da iniciativa no BC, a moeda será uma versão virtual do real físico, garantida pelos mesmos fundamentos e pelas mesmas políticas econômicas que determinam o valor e a estabilidade do real convencional, permitindo transações financeiras, transferências e pagamentos, por exemplo.

Considerado à prova de hackers, o blockchain é definido como uma espécie de banco de dados ou de livro-razão com dados inseridos e transmitidos com segurança, rapidez e transparência. Sem um órgão central de controle, essa tecnologia funciona como uma espécie de corrente de blocos criptografados, com cada elo fechado depois de determinado tempo. Nenhuma informação pode ser retirada ou mudada porque todos os blocos estão conectados entre si por senhas criptografadas.

Pelas informações que se tem até o momento, a moeda virtual vai funcionar da seguinte maneira:

  • O Drex será emitido pelo próprio BC, como uma extensão da moeda física, com a distribuição ao público intermediada pelos bancos e instituições de pagamento.
  • A moeda virtual poderá ser trocada pelo real tradicional (em notas), e vice-versa, mas o foco serão as transações financeiras.
  • A cotação frente a outras moedas também será a mesma do real físico.
  • Não será permitido que os bancos emprestem esses recursos a terceiros — como acontece atualmente com o real físico — e depois os devolva aos clientes.
  • Não haverá remuneração, ou seja, os recursos não terão uma correção automática.
  • Haverá uma garantia da segurança jurídica, cibernética e de privacidade nas operações.

Qual a diferença em relação às demais criptomoedas?

As criptomoedas obedecem à lei da demanda e da oferta, com o valor flutuando diariamente, como uma ação de uma empresa. Sem garantia de bancos centrais e de governos, a cotação das criptomoedas oscila bastante, podendo provocar perdas expressivas de valor de um dia para outro.

Atrelado às moedas oficiais, o CBDC oscila conforme a taxa diária de câmbio, determinada pelos fundamentos e pelas políticas econômicas de cada país. A taxa de câmbio, no entanto, só representa diferença para operações entre países diferentes. Para transações internas, o Drex valerá o mesmo que o papel-moeda.

Outra diferença em relação às criptomoedas está no sistema de produção. Enquanto moedas virtuais como Bitcoin, Ethereum e outras podem ser “mineradas” num computador que resolve algoritmos e consome muita energia, o Drex será produzido pelo Banco Central, com paridade em relação ao real.

Qual a diferença do Drex para o Pix?

Embora possa ser considerado primo do Pix, por permitir pagamentos instantâneos entre instituições financeiras diferentes, o Drex funcionará de maneira distinta. No Pix, a transferência ocorre em reais e obedece a limites de segurança impostos pelo BC e pelas instituições financeiras. No Drex, a transferência utilizará a tecnologia blockchain, a mesma das criptomoedas. Isso permitirá transações com valores maiores.

Que serviços poderão ser executados com o Drex?

Serviços financeiros em geral, como transferências, pagamentos e até compra de títulos públicos. Os consórcios habilitados pelo Banco Central poderão desenvolver mais possibilidades, como o pagamento instantâneo de parcelas da casa própria, de veículos e até de benefícios sociais, conforme anunciado pelo consórcio formado pela Caixa Econômica Federal, a Microsoft do Brasil e a bandeira de cartões de crédito Elo.

O Drex permitirá o uso de contratos inteligentes. No caso da venda de um veículo, não haveria a discussão se caberia ao comprador depositar antes de pegar o bem ou se o vendedor teria de transferir os documentos antes de receber o dinheiro. Todo o processo passará a ser feito instantaneamente, por meio de um contrato automatizado, reduzindo o custo com burocracias, intermediários e acelerando as operações.

A expectativa do BC é de que o Drex permita que os produtos que já existem no sistema financeiro sejam oferecidos com uma “variedade maior”, atendendo de forma mais específica as necessidades dos usuários e a um custo mais baixo.

A ideia é que o usuário abra o aplicativo bancário ou da sua instituição financeira de preferência e encontre várias opções de um mesmo serviço financeiro, que sejam “mais adequadas” em termos de perfil e custos do que as disponíveis atualmente.

O BC ainda destacou que uma das diretrizes para o desenvolvimento da moeda digital é a interoperabilidade (capacidade de um sistema se comunicar com outro de forma transparente) com os meios de pagamento hoje disponíveis à população.

Dessa forma, os usuários poderão fazer pagamentos em lojas, por meio do seu prestador de serviço de pagamentos — banco, instituição de pagamento ou outra instituição que venha a ser autorizada pelo BC para tal —, ou mesmo por meio do Pix.

Além disso, o usuário também poderá transferir reais digitais para outras pessoas, transformá-los em depósito bancário convencional e sacá-los em formato físico, além de pagar contas, boletos e impostos.

Como se dará o acesso ao Drex?

Prevista para chegar ao consumidor no fim de 2024 ou início de 2025, o Drex só funcionará como uma moeda de atacado, trocada entre instituições financeiras. O cliente fará operações com a moeda digital, mas não terá acesso direto a ela, operando por meio de carteiras virtuais.

O processo ocorrerá da seguinte forma. Primeiramente, o cliente (pessoa física ou empresa) deverá depositar em reais a quantia desejada numa carteira virtual, que converterá a moeda física em Drex, na taxa de R$ 1 para 1 Drex. Essas carteiras serão operadas por bancos, fintechs, cooperativas, corretoras e demais instituições financeiras, sob a supervisão do BC. Novos tipos de empresas com carteira virtual poderão ser criados, conforme a evolução da tecnologia.

Após a tokenização (conversão de ativo real em ativo digital), o cliente poderá transferir a moeda digital, por meio da tecnologia blockchain. Caberá ao receptor converter os Drex em reais e fazer a retirada.

A tokenização pode ser definida como a representação digital de um bem ou de um produto financeiro, que facilita as negociações em ambientes virtuais. Por meio de uma série de códigos com requisitos, regras e processos de identificação, os ativos (ou frações deles) podem ser comprados e vendidos em ambientes virtuais.

O Drex vai acarretar mais custos?

Na prática, a ideia é que o Drex não acarrete mais custos. O coordenador do Drex no BC disse que, por estar sempre associada a um serviço financeiro, é natural que os custos da plataforma da nova moeda digital estejam embutidos.

“A vantagem do ambiente digital é a automatização. Como você não precisa mais de um intermediário ali, você reduz muito o custo e facilita o uso da tecnologia para trocas mais baratas, além de ampliar e democratizar o acesso aos serviços [financeiros]. Então tem um custo, mas esse custo parece ser muito mais barato”, afirmou Araújo na live.

Fonte: ICL Economia, G1 e agências

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