Setembro de 2025 marca uma nova etapa na mobilização das mulheres negras no Brasil, com ações estratégicas que reforçam seu protagonismo na construção de um país mais justo e democrático. Entre os destaques está o lançamento do Comitê de Tecnologia da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, realizado no dia 4 de setembro, em formato híbrido, com transmissão em português e espanhol.
O comitê surge como resposta à urgente necessidade de soberania digital, inclusão tecnológica e proteção de direitos no ambiente online, especialmente diante da sub-representação das mulheres negras no setor. Segundo o Observatório da PretaLab, apenas 2% dos profissionais de tecnologia no Brasil são mulheres negras, o que evidencia barreiras estruturais e desigualdades históricas.
A atividade, sediada na Ação Educativa, em São Paulo, contou com uma recepção cultural, leitura da Declaração do Comitê de Tecnologia e duas mesas de debate com especialistas nacionais e internacionais. Participaram do encontro nomes como Naiara Leite, Juliane Cintra, Sil Bahia, Támara Barbará, Taís Oliveira, Beatriz Kremer e Larissa Santiago, que abordaram temas como justiça digital, reparação histórica e o conceito de Bem Viver.
De acordo com Silvana Bahia, codiretora da Olabi e criadora da PretaLab, o comitê representa um chamado para reimaginar o futuro digital a partir da experiência das mulheres negras: “Queremos construir esse futuro como protagonistas, não apenas como impactadas pelas tecnologias”.
Mobilização nacional
As ações de setembro integram a agenda preparatória para a 2ª Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, marcada para o dia 25 de novembro, em Brasília. A expectativa é reunir um milhão de mulheres negras — pretas e pardas — de todas as regiões do país, dez anos após a histórica primeira edição.
A marcha é organizada por comitês regionais e impulsionada por redes como a Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), o Fórum Nacional de Mulheres Negras, a Rede Fulanas – Negras da Amazônia Brasileira, entre outras. As pautas centrais incluem políticas públicas para mulheres negras, combate ao racismo estrutural, reparação histórica e promoção do Bem Viver — conceito que propõe uma vida com dignidade, respeito às ancestralidades e justiça social.
Reflexões e críticas
Além do lançamento do comitê, o movimento também promoveu reflexões críticas sobre o 7 de setembro, questionando o mito da independência e destacando a invisibilização das populações negras na narrativa oficial. A memória de Esperança Garcia, mulher negra escravizada que escreveu uma petição por direitos em 1770, foi resgatada como símbolo de resistência e luta por justiça.
Outro eixo de mobilização é a consulta pública do Manifesto Econômico das Mulheres Negras, que propõe alternativas ao modelo econômico vigente, com foco em redistribuição de renda, valorização do trabalho doméstico e comunitário, e combate às desigualdades interseccionais.
O futuro
A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver reafirma o papel das mulheres negras como agentes de transformação social, tanto nas ruas quanto nas redes. Com ações que articulam cultura, tecnologia, política e memória, o movimento constrói coletivamente um projeto de país que reconhece e valoriza a diversidade, a justiça e a dignidade.
Mais informações sobre o Comitê de Tecnologia e a agenda da Marcha podem ser encontradas no site da Negras do Nordeste.