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Inovação ou ameaça ao trabalhador?

A inteligência artificial está revolucionando o setor da hospitalidade. De sistemas que otimizam o consumo de energia a algoritmos que personalizam a experiência do hóspede, a IA promete eficiência, sustentabilidade e crescimento. Mas por trás desse discurso tecnológico, surge uma pergunta incômoda: qual o custo humano dessa transformação? Não há como negar os avanços. Hotéis que adotam IA conseguem reduzir desperdícios, cortar emissões e oferecer serviços mais ágeis. A automação de tarefas repetitivas libera os profissionais para funções mais estratégicas e criativas. A promessa é de um setor mais inteligente, sustentável e centrado no cliente.

Mas essa mesma tecnologia que encanta gestores pode assustar trabalhadores. A automação ameaça empregos operacionais, especialmente os de menor qualificação. Sistemas de recrutamento baseados em IA, se mal calibrados, podem reforçar vieses e excluir candidatos sem que haja transparência no processo. A vigilância algorítmica, por sua vez, pode transformar o ambiente de trabalho em um espaço de controle constante.

Sindicatos enfrentam o desafio de se atualizar rapidamente. Muitos ainda operam com estruturas pensadas para um mundo analógico, enquanto a IA redefine as regras do jogo. É urgente que essas entidades se posicionem não contra a tecnologia, mas a favor de uma transição justa. Isso inclui negociar cláusulas de proteção ao emprego, exigir requalificação profissional e garantir que decisões automatizadas sejam auditáveis e supervisionadas por humanos.

O futuro da hospitalidade não precisa ser um duelo entre máquinas e pessoas. A combinação da inteligência artificial com a inteligência humana — a chamada inteligência híbrida — pode ser a chave. A IA cuida da eficiência; o ser humano, da empatia. Mas para isso, é preciso investir em treinamento, bem-estar e valorização dos profissionais, combate ao assédio no trabalho e a segurança.

A IA não é boa nem má — é uma ferramenta. O que determinará seu impacto será a forma como a sociedade, as empresas e os sindicatos decidirem usá-la. Se quisermos um setor de hospitalidade mais justo, inclusivo e humano, precisamos garantir que a inovação tecnológica caminhe lado a lado com a responsabilidade social.

  • Wilson Pereira é presidente da Contratuh

 

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