Na próxima quarta-feira (20/11), o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra como feriado nacional. A data, que homenageia Zumbi dos Palmares — líder do maior quilombo do período colonial e símbolo da resistência contra a escravização — é também um convite à reflexão sobre os desafios que persistem na luta por igualdade racial.
Apesar de avanços na escolaridade e na formalização do trabalho, os números mais recentes mostram que a exclusão da população negra continua profunda. Relatórios divulgados em 2025 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e pelo IBGE confirmam que negros e negras enfrentam salários menores, maior informalidade e taxas de desemprego mais altas em comparação com trabalhadores brancos.
Desemprego e precarização
O levantamento da RAIS, publicado em novembro de 2025, revela que trabalhadores negros recebem salários médios menores em todas as 87 divisões de atividades econômicas. Em seis setores, a remuneração média não chega à metade da paga a brancos. Além disso, dados da Coordenação-Geral de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Análogo à Escravidão mostram que, entre 2002 e 2024, 66% dos trabalhadores resgatados em condições análogas à escravidão eram negros. Em 2023, esse percentual chegou a 81%.
Mulheres negras: as mais afetadas
O Relatório de Transparência Salarial de 2025 confirma que as mulheres continuam recebendo menos que os homens, mas a disparidade é ainda maior quando se observa o recorte racial.
- Mulheres negras recebem 46% menos que homens brancos.
- O salário médio de uma mulher negra é de R$ 2.986, enquanto o de um homem branco chega a R$ 6.391.
- Já na admissão, a diferença aparece: mulheres negras recebem 33,5% menos que homens brancos.
Juventude negra e políticas públicas
Estudos do Núcleo de Estudos Raciais do Insper reforçam que os jovens negros têm taxas de desemprego maiores que os jovens brancos. O economista Alysson Portella defende políticas públicas universais para reduzir disparidades regionais, valorização do salário mínimo e ações afirmativas no mercado de trabalho, inspiradas nas medidas adotadas nos EUA em 1965.
Informalidade e subocupação
Segundo o IBGE, em 2025 a renda média de pessoas negras equivale a 58,3% da renda de pessoas brancas. A informalidade também é mais alta entre negros e negras, especialmente em ocupações domésticas e de serviços. A taxa de subocupação por insuficiência de horas trabalhadas segue alarmante: entre mulheres negras, chega a 16,7%, mais que o dobro da registrada entre homens não negros.
Zumbi dos Palmares: símbolo da resistência
O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, instituído em 2011 e agora feriado nacional, remete à morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. Líder do maior quilombo da história brasileira, Zumbi lutou até o fim contra a escravização e pela liberdade plena. Sua trajetória mostra a importância da memória e da resistência do povo negro.
Reflexão necessária
Os números de 2025 reforçam que, apesar de avanços, a desigualdade racial no mercado de trabalho brasileiro permanece estrutural. A disparidade salarial e a exclusão da população negra mostram que a luta por justiça e igualdade está longe de terminar.
Mais do que um feriado, o Dia da Consciência Negra deve servir como um chamado à ação: combater o racismo estrutural e garantir que a cor da pele não seja um fator determinante para o futuro profissional e econômico de milhões de brasileiros.
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