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Um momento para refletir sobre como estamos redefinindo liderança

O empreendedorismo feminino no Brasil nunca esteve tão vivo, nem tão desafiador.

Celebrar esse movimento é importante, mas também é olhar de perto o que ele revela: conquistas, abismos e transformações silenciosas que estão redesenhando o futuro do trabalho e da liderança.

Segundo o Sebrae, já são mais de 10,4 milhões de mulheres empreendedoras, o maior número da série histórica. Elas representam 34% dos negócios formais e movimentam bilhões na economia. Ainda assim, apenas 30,6% têm empresas com funcionários. Esse dado mostra os desafios que ainda enfrentamos: uma estrutura que, mesmo com avanços, dificulta o crescimento e a sustentabilidade dos negócios liderados por mulheres.

Mesmo com níveis de escolaridade mais altos, empreendedoras ganham, em média, 25% menos que homens na mesma posição. Essas diferenças não vêm da falta de competência, mas da falta de investimento e de modelos de apoio que considerem as dinâmicas reais de quem empreende sendo mulher. É sobre uma cultura que ainda associa sucesso à performance individual e não reconhece a potência da colaboração.

Mas algo transformador está acontecendo. As mulheres estão mudando as regras do jogo. Criam empresas com propósito e redefinem o que significa liderar. Reputação não se constrói apenas com resultados financeiros, mas com valores consistentes, coragem, transparência, humildade intelectual e capacidade de equilibrar performance e propósito.

Essa transformação também se reflete na ambição. Uma pesquisa da Chief, em parceria com a Harris Poll, mostra que 86% das mulheres líderes seniores afirmam que a ambição evoluiu: não se resume a subir na hierarquia ou acumular poder, mas está ligada à autonomia, influência, impacto e legado. Mulheres reimaginam suas carreiras, tomam decisões estratégicas e buscam impacto de forma consciente — parte central do novo modelo de liderança feminina.

O novo modelo é coletivo, inclusivo e sistêmico. Liderança não se mede apenas por faturamento, mas pelo quanto inspira, transforma e puxa outras mulheres junto. As mulheres estão cansadas do modelo da exaustão e determinadas a construir empresas mais conscientes, com estruturas humanas.

Esse protagonismo redefine o empreendedorismo no Brasil: não o da heroína solitária, mas da mulher que constrói junto, lidera pelo exemplo e aposta na educação como ferramenta de transformação. Um jeito novo de fazer negócio, se relacionar com o poder e gerar impacto.

E é isso que me inspira: estamos mudando o significado de empreender. As mulheres que admiro e com quem trabalho estão substituindo o discurso da performance pelo da consciência. Estão trocando a lógica da competição pela da colaboração.

Lideram com empatia, propósito e coerência, não por tendência, mas porque é o jeito de fazer as coisas funcionarem a longo prazo. Empreender, pra nós, nunca foi só abrir negócios: é abrir caminhos.

 * Mariana Achutti é fundadora e CEO da newnew, referência em inovação e educação corporativa no Brasil. Também fundou a Sputnik e foi sócia da Perestroika. Com mais de 15 anos de atuação, impactou milhares de profissionais e empresas como Google, Meta, Globo, O Boticário, Danone e Ambev, redesenhando a forma como o país aprende no trabalho.

 

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