O caso chocante ocorrido em Natal, no Rio Grande do Norte — em que uma mulher foi brutalmente agredida por seu companheiro dentro de um elevador — trouxe à tona não apenas a urgência do combate à violência de gênero, mas também a importância vital de um profissional muitas vezes invisibilizado: o porteiro.
Foi graças à atenção e agilidade de Manoel Anésio, porteiro do condomínio, que a polícia foi acionada a tempo e o agressor preso em flagrante. A vítima, que sofreu mais de 60 socos e múltiplas fraturas, pôde receber socorro imediato. O gesto de Manoel não foi apenas técnico — foi humano, corajoso e decisivo.
Mais que vigilantes
Porteiros não são apenas operadores de portaria. Eles são os olhos atentos que vigiam não só entradas e saídas, mas também os sinais sutis de perigo. São eles que: Observam movimentações suspeitas e comportamentos fora do padrão, intervêm em situações de emergência, como incêndios, invasões ou agressões, prestam primeiros socorros ou acionam ajuda especializada, acolhem moradores em momentos de vulnerabilidade e garantem que regras de convivência e segurança sejam respeitadas.
Em muitos casos, como o de Natal, o porteiro é o primeiro a perceber que algo está errado. E quando bem treinado, ele pode ser a diferença entre a vida e a morte.
Câmeras não!
A crescente substituição de porteiros por sistemas automatizados e câmeras de segurança levanta uma questão delicada: tecnologia sem humanidade é insuficiente. Câmeras registram, mas não interpretam. Alarmes disparam, mas não acolhem. Um porteiro atento, como Manoel, não apenas viu a agressão — ele agiu.
A presença humana é insubstituível em situações que exigem discernimento, empatia e ação imediata. A tecnologia deve ser aliada, não substituta.
Capacitação
Como destacou Amanda Sadalla, especialista em políticas públicas, é essencial que porteiros sejam capacitados para identificar sinais de violência, saber como agir e como acolher vítimas. Isso inclui: Treinamento em primeiros socorros e protocolos de emergência, formação sobre violência doméstica e de gênero, orientação sobre como abordar vítimas com sensibilidade, conhecimento das leis que obrigam condomínios a denunciar casos de violência.
Infelizmente, muitos profissionais ainda não recebem esse preparo. E sem ele, mesmo os mais bem-intencionados podem se sentir perdidos diante de uma situação crítica.
Profissão subestimada
Em tempos em que a segurança é uma das maiores preocupações urbanas, é paradoxal que se desvalorize justamente quem está na linha de frente. Porteiros são profissionais essenciais, que merecem respeito, valorização e investimento. Eles não apenas controlam acessos — eles protegem vidas.
Reconhecimento
O caso de Natal é um alerta, mas também um exemplo. Que ele sirva para reforçar a importância da presença humana nos condomínios, para estimular a capacitação contínua dos porteiros, valorizar a profissão como parte fundamental da rede de proteção social e inspirar outros profissionais a agirem com coragem e responsabilidade.
Porque, como disse o próprio Manoel Anésio: “A justiça tem que ser feita. Uma situação dessa não pode ficar impune.” E é graças a profissionais como ele que essa justiça começa a acontecer.
Fonte: O Globo, com foto de Kleber Teixeira/Inter TV Cabugi
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