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“Não deixe o samba morrer”

Meu Pai, que adorava música, aos domingos de manhã, colocava em volume bem alto a vitrola a girar seus vinis. Inesquecível a voz de Alcione cantando seus antológicos sambas, entre eles esse, que mais que um samba é um apelo, mais que música um compromisso, escrito na 1ª pessoa, para que qualquer um, especialmente brasileiro, assumisse esse compromisso pessoal, com nossa cultura de raiz. Por algum motivo levei isso para as outras responsabilidades e passei a ser um lutador, nesse mundo de tantas mudanças, com a eternidade das coisas que precisam se eternizar.

Mesmo Engenheiro de formação e com especialização em Sociologia, fiz minha vida profissional no turismo, na área pública e privada e nele permaneço até os dias de hoje. Nesse último ano deixei ao largo minhas atividades privadas e aceitei o desafio, convocado pelo Ministro Celso Sabino, sob a não pouca influência do nosso querido Walfrido Mares Guia, para voltar à Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, a fim de retomar a política pública de turismo, ainda cambaleante de um período de indefinição e sem rumo. Dediquei-me esse ano a retomar as atividades plenas do Conselho Nacional de Turismo – CNT, suas Câmeras Temáticas e sub Câmaras, em minha opinião, absolutamente necessárias para a condução de qualquer política pública numa atividade que tem em seu DNA a necessidade da permanente articulação pública e privada. De agora em diante o CNT e suas Câmaras fazem parte da institucionalidade do turismo, com Decreto Presidencial, ninguém mais poderá fazê-las ser esquecida ou relegada. Outra frente foi estabelecer um calendário de eventos intrínsecos ao turismo, para que tenhamos eventos espalhados pelo Brasil e que possam ser o centro de debates e articulações para o nosso desenvolvimento. Com igual importância, estabelecemos uma política integrada e integradora com os Estados através do Fornatur e com os Municípios através da CNM e Anseditur, para que nossas políticas pudessem estar mais alinhadas possível, no sentido de enfrentarmos juntos nossos grandes desafios. No Trade estivemos juntos nas discussões da reforma tributária, na defesa do PERSE, onde não nos ocultamos em defender nosso setor, junto ao Governo e ao Congresso, demonstrando o caráter estratégico de nossa atividade econômica, especialmente nos novos tempos que se avizinham, em ambos até agora tivemos esse reconhecimento. No Plano Nacional de Turismo retomamos o princípio das tarefas de Desenvolver, Qualificar e Promover, produtos e destinos, como essenciais para a política pública e com alegria vemos esses princípios contemplados nesse PNT de 2024/2027, que a qualquer momento, será assinado pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva. No entanto, como convicção, nada ganhará força e tração no turismo se não tivermos uma política clara em relação a Regionalização do Turismo. Hoje 90% do Orçamento Público da União encontram-se em Emendas Parlamentares. A disputa pela alocação desses recursos deve ser feita pela Regionalização, junto com os entes Federados e o CNT, caso contrário se perderá a oportunidade e colocá-los nos lugares mais produtivos, fazendo com que os eventos proporcionados por eles se tornem “vento” e os necessários investimentos em qualificação se percam pelos dedos. O Brasil é imenso e diverso, tanto culturalmente, quanto em sua natureza, ‘natura e cultura’, as duas matérias primas do turismo. Para tanto propomos uma mudança importante no Programa, o de transformá-lo em um Ecossistema de Regionalização do Turismo, onde a base e o topo da pirâmide se comuniquem de forma integrada, assim como a motivação de qualquer partícipe do sistema, integre-se as demais. A Regionalização do Turismo é o nosso “Samba” e o Salão de Turismo a sua grande apoteose. O Salão voltou a pedido do Presidente Lula e com certeza trará grandes alegrias e perspectivas ao turismo brasileiro, por isso peço, “não deixe a Regionalização e o Salão de Turismo morrer”, independente de quem estiver no comando do Ministério e do Governo do País, pois o futuro dos produtos turísticos nessa terra espetacular, pertence ao Turismo de Base Comunitária, ao Turismo regenerativo, aos nossos produtos de ecoturismo, aventura, rural, de Povos Originários e com a essência de nossa cultura e suas manifestações, que tanto necessitam do Salão e tudo que o movimenta. O Salão é a grande Conferência do Turismo Brasileiro e provavelmente o maior encontro de toda a Esplanada. Muita gente no nosso setor, seja no Trade ou na Academia, defendem a não necessidade da existência de um Ministério do Turismo, face a facilidade com ele é usado para finalidades não essencialmente turísticas, servindo mais a interesses difusos do que desenvolvimentistas. Sou daqueles que me filio a ideia de que devemos continuar a defender sua existência e organizar essa imensa base para a busca desses, ainda importantes recursos. É hora daqueles que conjugam juntos os três verbos, Desenvolver, Qualificar e Promover não perderem a força e, através da Regionalização disputar as verbas públicas e, verdadeiramente fazerem o turismo brasileiro acontecer. As tragédias do Rio Grande do Sul levaram o Ministro da Reconstrução, Paulo Pimenta a me convocar para esse esforço “pós-guerra”, onde em nenhum momento poderíamos nos esconder. Assim, a partir de hoje deixo a Secretaria Nacional de Políticas do Turismo – SNPTUR, para assumir novas funções, ainda muito ligadas ao nosso setor, entre elas as questões aeroportuárias e recuperação de nossas empresas e equipamentos turísticos. Agradeço a confiança do Ministro Celso Sabino e todos meus colegas de Ministério , os funcionários da SNPTUR a quem dedico nossas vitórias, ainda que não completas, ao SESC/SENAC e SEBRAE pela imensa parceria que estabelecemos durante esse ano e com vistas ao futuro, aos Membros do Conselho Nacional de Turismo, da Academia Brasileira de Eventos e Turismo, das Instancias de Governança Regionais do Turismo – IGRs, hoje com 325 entidades ativas no País (com certeza a maior estrutura do  mundo) nossos verdadeiros baluartes, e aqueles todos que fazem do Salão do Turismo o movimento que energiza, organiza e move a Política Pública do Turismo.

Encerro me filiando a voz da “Marrom”, clamando a todos, “Não Deixe o Samba Morrer…” Nunca!

Muito Obrigado!

 

  • Milton Zuanazzi, foi secretário nacional de Políticas de Turismo. Foi ministro interino do Turismo e coordenou a elaboração e execução do Plano Nacional de Turismo; ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Como secretário-executivo do Conselho Nacional de Turismo, representou o Brasil na Reunião Especializada de Turismo do Mercosul e no comitê de finanças da Organização Mundial do Turismo.

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