No Texas, Estados Unidos, a transnacional de fast-food McDonald’s abriu um restaurante onde os consumidores não têm contato direto com nenhum outro ser humano. Este fato atinge – novamente – a questão das revoluções tecnológicas e suas consequências para o emprego.
Texto de Daniel Gatti
O restaurante, localizado em Forth Worth, uma cidade de quase um milhão de habitantes do centro-oeste do estado, é um dos menores da rede de franquias de fast-food dos Estados Unidos e só funciona na modalidade “Peça e Retire” (“take away”).
Os consumidores teclam e pagam o seu pedido em uma tela e em poucos minutos, mais tarde, a sua refeição chega por meio da esteira rolante de uma prateleira de entrega de pedidos.
O restaurante tem apenas espaço para os motoboys, já que ninguém pode comer lá. Não existe outro restaurante igual a este no planeta.
No McDonald’s estão eufóricos. “Este é o último passo da sua estratégia de “Accelerating the Arches” – ou “Acelerar os Arcos”, em tradução livre e literal, focada na inovação para melhorar as experiencias dos clientes”, disse a transnacional em um comunicado.
Max Carmona, diretor de design global e desenvolvimento de restaurantes, afirmou que a empresa visa a “encontrar novas formas de atendimento, sempre da forma mais rápida e fácil para os seus clientes”, sendo para ele “esta uma experiência que chegou para ficar, se tudo caminhar bem, como tem sido até agora”.
Na maior parte dos países mais industrializados, o setor da gastronomia é um dos que mais está sofrendo mudanças devido à introdução de novas tecnologias.
De acordo com um estudo de 2021, do site especializado Twisted, citado pela revista argentina Planeta Urbano, as novas tecnologias estão ganhando aceleradamente terreno nos restaurantes, especialmente aqueles de comida rápida.
Simpáticos robôs
A matéria menciona, entre outros, o caso do Flippy, um robô desenvolvido pela empresa Miso Robotics que em 100 restaurantes da rede norte-americana de fast food White Castle aumenta de 10 a 20 por cento a velocidade de produção.
O robô Flippy “frita 80 cestas de batatas-fritas por hora”, pode virar os hambúrgueres e até “limpar sua própria bagunça”, disse a matéria.
Mike Bell, diretor executivo da Miso Ropotics, pensa que tudo isso é lucro: o robô se encarrega das tarefas mais entediantes, “enquanto o pessoal se concentra em preparar, cozinhar e armar os pedidos da maneira mais segura e precisa, dedicando menos tempo com as cestas de fritura”.
O artigo menciona outros restaurantes e bares altamente automatizados, como o Mission Bay em São Francisco, cujo robô pode preparar 300 refeições sem precisar da intervenção humana”, ou até bares nos Países Baixos e na Finlândia onde um barman robótico chamado Makr Shakr prepara sozinho, “seguindo receitas de bartenders internacionais”, drinks dos mais variados.
Tem também o caso do The Kitchen, um robô de cozinha inventado na Grã-Bretanha, programado para saber 5 mil receitas.
Europa avant-garde
De acordo com a Twisted, o mercado internacional da robótica crescerá, em média, a um ritmo superior aos 17 porcento, até 2021. Esse crescimento se dará particularmente na Europa, nos Estados Unidos e em alguns países asiáticos.
Quase a metade dos robôs que funcionam na indústria de alimentos estão concentrados na Europa, com patamares altos na Alemanha e na Itália.
Nesse continente, a densidade dos robôs por cada 10 mil trabalhadores passou de 62 em 2013 a 84 em 2017, chegando a mais de cem em 2023.
É preciso dizer que a iniciativa da McDonald’s não é de fato original, pois há anos na China já existem restaurantes de comida rápida oferecendo o mesmo tipo de serviço, aliás mais automatizados, com robôs camareiros e recepcionistas.
Redução de danos
Frear o que os empresários e desenvolvedores chamam “avanços tecnológicos” parece difícil. Não está na lógica do capitalismo fazer isso e nem há hoje no mundo outra corrente de pensamento que lhe faça oposição.
“Uma revolução tecnológica provoca mudanças em muitos aspectos, levando principalmente a um salto importante na produtividade (fator chave para explicar o seu uso generalizado, particularmente no capitalismo), melhorando a competitividade das empresas e, ao mesmo tempo, provocando a inviabilidade dos processos produtivos baseados na tecnologia anterior”, escreve o economista uruguaio Juan Manuel Rodriguez, em um ensaio dedicado ao assunto.
“Estas mudanças modificam o trabalho e reduzem o emprego, particularmente nos setores que passam a ser não competitivos”, afirma este professor que também foi assessor da central sindical única de seu país, o PIT-CNT, na matéria publicada em novembro passado, no jornal La Diaria.
Entretanto, Rodríguez informa também que quando ocorrem “revoluções” como estas, impõe-se pelo menos a ativação de mecanismos como as negociações coletivas para minimizar suas consequências e afetar da menor forma possível o nível de emprego.
“A construção de novas instituições e de acordos sociais acompanhou historicamente as transformações tecnológicas”, acrescenta, porém ele observa que essa não é a tendência dominante em um mundo onde “as negociações coletivas estão se reduzindo” e, aliás, “muitos se perguntam quais são as condições para que sejam retomadas”.
Fonte: Rel UITA e Foto: EPU