Na última terça-feira (30), o seminário “Alternativas para o fim da escala de trabalho 6×1” reuniu no SESC Santana, em São Paulo, representantes sindicais, empresariais e acadêmicos para debater a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 8/25. A iniciativa, fruto do Requerimento nº 81/2025 do deputado Luiz Gastão (PSD-CE), propõe extinguir o regime de seis dias consecutivos de trabalho com apenas um de descanso.
O evento revelou dois lados distintos do Brasil: de um lado, trabalhadores defendendo condições mais humanas; do outro, empresários preocupados com impactos financeiros.
Vozes dos trabalhadores
O presidente da Federação Interestadual dos Trabalhadores Hoteleiros de São Paulo e Mato Grosso do Sul – Fetrhotel, Cícero Lourenço Pereira, esteve presente com lideranças como Luis Carlos Apolinário (Sechsar), Elisabete Cordeiro (Sinthoresp) e Julimar Nonato (Contracs). Os sindicalistas denunciaram os efeitos nocivos da escala 6×1, como o adoecimento físico e mental, a sobrecarga enfrentada por mulheres e os prejuízos à vida familiar.
Julimar Nonato foi enfático:
“Não estamos aqui para falar de lucro, mas da vida real dos trabalhadores. O excesso de jornada tem destruído famílias. Precisamos de condições mais humanas.”
Ele defendeu que a redução da carga horária por lei é essencial para combater metas abusivas e transtornos psicológicos, além de gerar empregos e estimular o consumo. Segundo o DIEESE, a medida poderia criar até 6 milhões de postos de trabalho e impulsionar setores como turismo e alimentação.
Argumentos patronais
Representantes empresariais como Ivo Dall’Acqua Júnior (Fecomércio-SP), Ricardo Alvarez Alban (CNI) e João Martins da Silva Júnior (CNA) sustentaram que a mudança traria prejuízos econômicos, apoiando-se em estudos do professor José Pastore (USP). Eles propuseram que a jornada fosse negociada exclusivamente via acordos coletivos.
Essa proposta foi duramente criticada pelos sindicatos, que apontaram a desigualdade de poder nas negociações e a fragilidade da representação dos trabalhadores, especialmente após a reforma trabalhista de 2017.
Reflexões econômicas
O economista Daniel Ferrer de Almeida (DIEESE) destacou que 77% dos trabalhadores formais atuam mais de 40 horas semanais, enquanto 14 milhões estão subutilizados ou desempregados. Ele reforçou que a produtividade não depende da carga horária, mas da forma como o país se insere na economia global.
“Trabalhadores descansados produzem mais. A redução da jornada é uma medida de justiça social e eficiência econômica.”
Números falam por si
- 77% dos trabalhadores formais atuam mais de 40h/semana
- 14 milhões de brasileiros estão subutilizados ou desempregados
- 3,6 milhões de empregos poderiam ser gerados com a redução da jornada
- 6 mortes por 100 mil vínculos formais — 2º pior índice do G20
- Participação feminina: 51% (vs 72% homens), afetada pela falta de políticas de cuidado
Fonte: Ascom Fetrhotel, por Inês Ferreira
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