O setor de turismo e hospitalidade no Brasil enfrenta uma provocada crise de representatividade sindical. Embora historicamente os sindicatos tenham desempenhado papel decisivo na conquista e defesa de direitos trabalhistas, hoje observa-se uma tendência de afastamento dos trabalhadores dessas entidades, especialmente em segmentos marcados pela informalidade e alta rotatividade.
Segundo o artigo de Angela Teberga e Bianca Briguglio, publicado pela Labor Movens, apenas 5% dos trabalhadores do turismo estavam sindicalizados em 2023, número abaixo da média nacional de 8,4%. Essa queda é resultado de múltiplos fatores estruturais e conjunturais que fragilizam a atuação sindical e dificultam a mobilização coletiva.
Causas principais
- Alta informalidade - Mais da metade dos trabalhadores do turismo atuam sem vínculo formal, o que os exclui da proteção das convenções coletivas e dificulta o acesso às entidades sindicais. Setores como cultura, lazer e alimentação apresentam taxas de informalidade superiores a 60%.
– Predominância de pequenas empresas – A maioria das empresas do setor possui menos de 100 empregados, o que reduz o potencial de organização coletiva. A proximidade entre patrões e empregados em ambientes menores também desestimula a sindicalização.
– Baixo crescimento econômico – A crise econômica prolongada e a alta taxa de subutilização da força de trabalho geram insegurança e desestímulo à participação política dos trabalhadores. A contribuição sindical, mesmo que pequena, é vista como um custo evitável em tempos de escassez.
– Ações antissindicais e reformas legais – A Reforma Trabalhista de 2017 enfraqueceu os sindicatos ao tornar a contribuição facultativa e eliminar a ultratividade dos acordos coletivos. Isso aumentou o poder de barganha das entidades patronais e dificultou a manutenção de conquistas anteriores.
– Modelo antiquado – Certa parte do sindicalismo brasileiro ainda opera com estruturas herdadas do século XX, pouco adaptadas à realidade atual do setor de serviços. A dispersão geográfica dos trabalhadores, os contratos flexíveis e a pejotização dificultam a atuação sindical tradicional.
Enfraquecimento
O artigo conclui que o enfraquecimento do sindicalismo no turismo é parte de um movimento mais amplo de precarização das relações de trabalho e desmobilização da classe trabalhadora. Para enfrentar esse cenário, é necessário repensar o modelo sindical, ampliar a representatividade e desenvolver estratégias que dialoguem com a diversidade e a complexidade do trabalho contemporâneo.
Como destacam Teberga e Briguglio, “as entidades coletivas são fundamentais: não apenas pelo que podem conquistar, mas por representarem os/as trabalhadores/as coletivamente, indicando a necessidade de união e construção conjunta para obter vitórias”
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