O Brasil enfrenta, em 2025, uma das maiores crises sociais relacionadas à população em situação de rua desde o início da série histórica. Estima-se que mais de 345 mil pessoas vivam atualmente nas ruas do país, número que mais que dobrou em relação a 2023. Esse crescimento acelerado revela não apenas o agravamento da pobreza urbana, mas também a fragilidade das políticas públicas voltadas à habitação, trabalho e assistência social.
A distribuição dessa população é desigual entre os estados, com forte concentração na região Sudeste, que abriga cerca de 63% do total. O estado de São Paulo lidera com mais de 146 mil pessoas em situação de rua, seguido por Rio de Janeiro e Minas Gerais, ambos com mais de 30 mil. No Sul, Paraná e Rio Grande do Sul também apresentam números expressivos, enquanto no Norte, Boa Vista (RR) chama atenção por ter a maior proporção por habitante: cerca de 20 pessoas em situação de rua para cada mil moradores.
O perfil demográfico dessa população revela vulnerabilidades profundas. A maioria é composta por homens (85%), negros (70%) e pessoas com baixa escolaridade — mais da metade não concluiu o ensino fundamental. Há também um número crescente de idosos e crianças vivendo nas ruas, o que agrava ainda mais o cenário de exclusão social.
Diante dessa realidade, o governo federal e algumas administrações estaduais têm buscado implementar medidas emergenciais e estruturantes. Em 2024, foi sancionada a Política Nacional de Trabalho Digno e Cidadania para a População em Situação de Rua, que prevê ações como qualificação profissional, acesso ao mercado de trabalho e criação de centros especializados de apoio. Também foi instituído o Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua, celebrado em 19 de agosto, como forma de mobilizar a sociedade e os gestores públicos em torno da causa.
No entanto, ao lado dessas iniciativas, surgem propostas controversas. Tramita no Congresso o Projeto de Lei 1251/24, que pretende proibir a permanência de pessoas nas ruas quando houver vagas em abrigos, além de autorizar a remoção de barracas e estruturas improvisadas em espaços públicos. A proposta tem sido criticada por especialistas e movimentos sociais, que apontam riscos de criminalização da pobreza e violação de direitos fundamentais.
Outro ponto de tensão é o uso da chamada arquitetura hostil — estruturas urbanas projetadas para impedir que pessoas se acomodem em locais públicos. Apesar da existência de leis que proíbem esse tipo de intervenção, como a Lei Padre Júlio Lancelotti, práticas como instalação de pedras pontiagudas, grades e barreiras físicas ainda são comuns em grandes cidades.
A situação da população em situação de rua no Brasil é, portanto, um reflexo direto das desigualdades históricas, da precarização do trabalho e da ausência de políticas habitacionais eficazes. Mais do que ações pontuais, o país precisa de uma abordagem integrada, que envolva moradia digna, inclusão produtiva, saúde mental e respeito aos direitos humanos. Sem isso, o número de brasileiros vivendo à margem continuará a crescer — invisível para muitos, mas cada vez mais presente nas ruas das cidades.
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