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As três fases do trabalhador

No mercado de trabalho contemporâneo, três contradições se destacam: aos 18 anos exigem-se cinco anos de experiência; aos 45 já se é considerado velho para trabalhar; e aos 65, ainda é cedo para se aposentar. Essas ideias refletem não apenas incoerências, mas também preconceitos estruturais que precisam ser questionados.

Exigir experiência de quem está iniciando a vida profissional é um paradoxo. O jovem de 18 anos, recém-saído da escola ou universidade, não pode ser penalizado por não ter tido oportunidades anteriores. O que deveria ser valorizado nesse momento é a capacidade de aprender, a disposição para inovar e a energia para enfrentar desafios. Programas de estágio, trainee e capacitação deveriam ser vistos como pontes para o desenvolvimento, não como barreiras.

Aos 45 anos, muitos profissionais atingem o auge de sua carreira, acumulando conhecimento técnico e habilidades interpessoais que só o tempo proporciona. Considerar essa faixa etária “velha” é desperdiçar talento e sabedoria. Em um mundo que valoriza diversidade, a experiência dos mais maduros é essencial para equilibrar equipes, orientar jovens e trazer estabilidade às organizações. O preconceito etário, conhecido como ageísmo, é uma forma de discriminação que precisa ser combatida com políticas inclusivas.

Aos 65 anos, dizer que alguém é “jovem demais para se aposentar” ignora a realidade da longevidade e da saúde. Muitos trabalhadores chegam a essa idade após décadas de contribuição e merecem o direito de descansar ou escolher se querem continuar ativos. A aposentadoria não deveria ser vista como um fim, mas como uma transição: alguns optam por projetos pessoais, voluntariado ou até mesmo continuar trabalhando em novas condições. O importante é garantir liberdade de escolha, e não impor regras rígidas.

Essas três situações revelam um mercado de trabalho que, muitas vezes, não valoriza o ser humano em sua integralidade. É preciso repensar critérios de contratação, combater o preconceito etário e respeitar o direito à aposentadoria. O trabalho deve ser visto como espaço de realização e dignidade, não como prisão de exigências incoerentes. Valorizar cada etapa da vida é reconhecer que juventude, maturidade e velhice têm contribuições únicas e igualmente importantes para a sociedade.

  • Emerson Vieira é jornalista e colaborador deste site.

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