No setor de turismo e hospitalidade — uma das áreas que mais crescem no país e que mais sofrem com rotatividade, sazonalidade e informalidade — a qualificação profissional segue sendo um dos pilares essenciais para elevar padrões de atendimento, fortalecer carreiras e melhorar a competitividade das empresas. E, mais uma vez, quem puxa essa fila não é a iniciativa privada, mas sim os sindicatos de trabalhadores.
Embora cada entidade tenha sua própria estrutura e realidade, boa parte dos sindicatos do setor oferece um conjunto robusto de cursos, oficinas, certificações e programas de capacitação. Entre os mais comuns, estão qualificação em atendimento ao cliente, governança hoteleira, boas práticas de manipulação de alimentos, idiomas básicos, noções de bar e restaurante, técnicas de recepção, segurança no trabalho e até programas de educação profissionalizante em parceria com instituições públicas e privadas.
Em muitos casos, existem convênios com escolas de idiomas, plataformas de cursos online, centros de formação técnica e universidades, garantindo descontos e acesso facilitado ao trabalhador — muitas vezes trabalhadores jovens, de baixa renda e com jornada extenuante.
A lógica é simples: quem investe em formação, trabalha melhor; quem trabalha melhor, ganha mais; e empresas com equipes qualificadas retêm pessoal, elevam reputação e aumentam resultados. É uma equação que beneficia toda a cadeia do turismo.
Mas o que deveria ser esforço compartilhado, na prática, recai quase exclusivamente sobre os sindicatos.
Só combate
Em vez de apoiar iniciativas de capacitação, muitas entidades patronais insistem em apostar em práticas antissindicais, sabotando negociações, pressionando trabalhadores, boicotando acordos coletivos e alimentando desinformação sobre contribuições sindicais. Uma postura que vai na contramão da realidade: sindicatos fortes qualificam o setor — e qualificação gera lucro.
Se o patronal realmente estivesse preocupado com produtividade, competitividade e atendimento de qualidade, ingressaria como parceiro desses programas, ampliando recursos, contribuindo com infraestrutura e garantindo que cada trabalhador tivesse acesso ao mínimo de formação contínua. Mas, não: parte relevante dos empresários prefere desvalorizar sindicatos, como se a precarização fosse alternativa sustentável para o turismo brasileiro.
É um contrassenso gritante: empresas que dizem não encontrar mão de obra qualificada são as mesmas que bloqueiam esforços coletivos para qualificar essa mão de obra.
Baixa participação dos trabalhadores: um desafio que precisa ser enfrentado
Outro obstáculo é a baixa adesão dos trabalhadores às atividades de formação promovidas pelos sindicatos. A sobrecarga da jornada, salários apertados e a crescente cultura de individualização dificultam a participação. Em muitos casos, o trabalhador só procura o sindicato quando está com problema — e perde oportunidades de evolução que poderiam mudar sua trajetória profissional.
Para reverter esse cenário, é necessário ampliar comunicação, criar programas mais flexíveis, investir em plataformas digitais e aproximar ainda mais os dirigentes da base. Mas nada disso será suficiente se o patronal continuar agindo para enfraquecer a organização sindical.
O presidente da Contratuh, Wilson Pereira tem sido um ferrenho defensor da qualificação profissional, pois ele entende que “formação é investimento, não despesa — e sindicatos já fazem a parte deles. No turismo e na hospitalidade, investir em gente nunca é custo: é valor agregado, retorno garantido, sustentabilidade e profissionalização de toda a cadeia produtiva. Os sindicatos têm demonstrado isso há décadas — mesmo com recursos limitados, mesmo enfrentando ataques, mesmo lidando com resistência patronal.”
A pergunta que fica para a classe empresarial é direta:
Se o trabalhador qualificado é tão importante para o setor, por que não apoiar quem realmente faz esse trabalho acontecer?
Aos sindicatos, o desafio é continuar avançando: ampliar cursos, incluir novas tecnologias, fortalecer parcerias e mostrar que qualificação é parte inseparável da luta por direitos.
E ao conjunto do setor — trabalhadores, sindicatos e empresários — resta encarar uma verdade simples: sem valorização e sem capacitação, o turismo brasileiro não se sustenta. Com elas, pode ir muito além do que está hoje.
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