É impossível falar em futuro do trabalho sem falar da juventude. No entanto, o movimento sindical brasileiro ainda enfrenta uma de suas maiores crises: o distanciamento das novas gerações, que cada vez mais enxergam a sindicalização como algo ultrapassado, burocrático ou mesmo ineficaz. Essa desconexão não é acidental — é fruto de um cenário onde a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi injustamente demonizada, e onde alternativas precarizantes, como a pejotização, surgem travestidas de “liberdade”.
Nas bases de hotéis, bares, restaurantes e outras atividades do setor de turismo e hospitalidade — setores que mais empregam jovens — a ausência dessa faixa etária é alarmante. Não é desinteresse puro e simples, mas uma leitura realista (ainda que incompleta) das condições de trabalho. Em muitas dessas atividades, o jovem precisa se submeter a escalas rígidas de 6×1, com trabalho aos finais de semana, enquanto vê colegas “pejotizados” ganhando aparentemente mais e com horários “flexíveis”.
Mas será que essa flexibilidade é real? A pejotização encanta pela falsa autonomia, mas mascara a ausência de direitos fundamentais como férias, 13º salário, proteção previdenciária e negociação coletiva. É um contrato sem rede de proteção. É o empreendedorismo da solidão.
O que precisa mudar?
O sindicalismo precisa se abrir para a escuta ativa da juventude — e agir com coragem para mudar o que afasta essa geração. Isso inclui, sim, discutir a revisão de jornadas como a escala 6×1, que inviabiliza a vida social de milhares de jovens e os afasta de setores essenciais da economia. É preciso também atualizar a linguagem sindical, ocupar o debate digital e mostrar, com transparência, que direitos não são entraves: são garantias de dignidade.
Mais do que convencer os jovens a se filiarem, o movimento sindical precisa mostrar por que vale a pena lutar coletivamente. Porque nenhum “contrato PJ” vai dar conta, sozinho, da desigualdade social e da exploração. E porque trabalhar com dignidade, tempo livre, salário justo e proteção é mais revolucionário do que parece.
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