O presidente Lula afirmou recentemente que o sindicalismo precisa “recuperar o direito à indignação”, em referência às mobilizações das décadas de 1970 e 1980. De fato, aquele período foi marcado por forte atuação sindical, mas também por condições financeiras muito distintas das atuais.
Naquela época, os sindicatos contavam com o imposto sindical obrigatório e outras contribuições, como taxas assistenciais e associativas. Essa estrutura garantia caixa robusto e estabilidade para as entidades, permitindo maior capacidade de mobilização. O próprio Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, do qual Lula foi dirigente, se beneficiava dessas receitas.
O cenário mudou radicalmente com a reforma trabalhista de 2017, conduzida pelo governo Temer. A medida retirou a principal fonte de financiamento dos sindicatos e fragilizou o sistema confederativo como um todo. Desde então, não houve debate consistente para recompor essa base financeira, o que limita a atuação sindical e desestimula mobilizações.
Tempos diferentes
Administrar um sindicato hoje é muito diferente de gerir uma entidade nos anos 70 e 80. Sem poder comercializar produtos ou serviços para gerar receita, os sindicatos dependem exclusivamente da contribuição voluntária dos trabalhadores. Isso exige dos dirigentes uma capacidade de gestão ainda maior, já que não há margem para sustentar estruturas amplas sem recursos garantidos.
Mais do que recuperar o “direito à indignação”, é necessário devolver os direitos que foram assegurados pela Constituinte e pela CLT, mas que foram corroídos ao longo dos últimos anos. Sem estabilidade financeira e segurança jurídica, as entidades sindicais perdem força e motivação, e qualquer mobilização tende a fracassar.
Portanto, o desafio atual não é apenas resgatar o espírito combativo do passado, mas reconstruir as bases materiais que permitam ao sindicalismo cumprir seu papel de defesa dos trabalhadores. Indignação sem direitos garantidos é apenas retórica; o que se precisa é devolver às entidades condições reais de atuação.
********





