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Sindicalismo Brasileiro se reinventa ou fica obsoleto

Em meio a um cenário de transformações profundas no mundo do trabalho, o sindicalismo brasileiro se vê diante de uma encruzilhada histórica: reinventar-se para dialogar com as novas formas de ocupação e organização laboral, ou tornar-se uma peça de museu institucional. Esse alerta vem desde março último quando o assunto foi tema dos Diálogos DIAP, que reuniu especialistas para refletir sobre os rumos do movimento sindical no Brasil contemporâneo.

Realidade

A metáfora de “dirigir olhando apenas pelo retrovisor” segue atual. O sociólogo Clemente Ganz, hoje articulador de redes sindicais latino-americanas, relembra que a desconexão entre a atuação sindical tradicional e os anseios reais da classe trabalhadora é um dos principais entraves à renovação. “Não basta defender o passado. É preciso construir pontes com o futuro do trabalho”, afirma.

Essa constatação ecoa nas falas de diversos dirigentes que reconhecem que a base trabalhadora está mais fragmentada, digitalizada e precarizada — e que os sindicatos precisam se adaptar a essa nova paisagem.

Reforma ou Deforma?

A Reforma Trabalhista de 2017 ainda reverbera como um divisor de águas. Para o advogado e consultor sindical José Eymard, a ausência de um modelo alternativo de financiamento e a imposição da negociação por empresa criaram um ambiente de desorganização e vulnerabilidade. “Hoje temos trabalhadores de aplicativos, terceirizados e intermitentes sem representação efetiva, pulverizados entre sindicatos que não dialogam entre si”, alerta.

Além disso, a cultura antissindical se institucionalizou, contaminando decisões judiciais e políticas públicas. A criminalização simbólica das entidades sindicais – muitas vezes retratadas como entraves ao progresso – dificulta ainda mais a reconstrução da legitimidade social do movimento.

Novo Sindicalismo

Apesar dos desafios, há convergência em torno de propostas concretas para a reconstrução do sindicalismo:

  • Representação para novas formas de trabalho, como plataformas digitais e economia informal;
  • Financiamento sustentável, com base em autorizações individuais e transparência;
  • Negociação coletiva setorial fortalecida, sem abrir mão da atuação por empresa;
  • Combate à fragmentação sindical, com estímulo à unidade de ação;
  • Revalorização da ação sindical de base, com escuta ativa e formação política;
  • Participação ativa nas pautas de justiça social, como igualdade de gênero, raça e combate à precarização.

Papel das Centrais

Em 2025, as centrais sindicais articulam com o Congresso Nacional uma proposta de reforma sindical democrática, que respeite a liberdade de organização e promova a representatividade real. A ideia é que a iniciativa parta do Legislativo, com amplo debate social, e não seja imposta por medidas provisórias ou acordos de cúpula. “Já estamos na metade do ano e ainda continuamos aguardando alguma decisão mais aguda do governo. Entendemos que temos um Congresso de difícil convivência, mas temos que avançar ou não haverá mais tempo para recuperar nossas entidades” adverte Wilson Pereira, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade – Contratuh.

Como afirmou recentemente o presidente da CNTI, José Reginaldo Inácio, “o sindicalismo precisa voltar a ser um catalisador de solidariedade e transformação social, e não um apêndice do Estado ou do mercado”.

Outro dirigente que tem batalhado muito em busca de soluções é o presidente da Nova Central Sindical dos Trabalhadores, Moacyr Auersvald, que tem buscado apoio até fora do país para catalisar recursos e ideias para manter ativo o Movimento Sindical. “Temos que apostar na nossa capacidade de construção, nos reforçarmos na juventude que precisa de estímulo e trazê-la para a nossa experiência na luta diária em favor do trabalhador”.

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