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Sindicalismo brasileiro: depois da queda, o abandono

O caso da jovem Juliana Marins, de 26 anos, que morreu ao cair em uma encosta no Monte Rinjani, na Indonésia, poderia servir como uma metáfora — ainda que delicada — para a situação atual do sindicalismo brasileiro.

Enquanto teve visibilidade, resultados e reconhecimento, Juliana era celebrada como exemplo de disciplina e excelência. Mas bastou enfrentar um desafio mais extremo para ser deixada à própria sorte, sem resgate, sem apoio, até seu último suspiro. De forma análoga, o sindicalismo brasileiro vive hoje um processo de esquecimento institucional: quando mais precisa de apoio, encontra silêncio e distância.

A estrutura sindical, antes fortalecida por contribuições obrigatórias, agora enfrenta o desafio de sobreviver com recursos escassos e adesão voluntária. O governo atual acenou com promessas de reestruturação legislativa — ainda não cumpridas — enquanto os sindicatos tentam provar sua relevância num ambiente de fragmentação, vínculos frágeis e relações de trabalho mais individualizadas.

O resultado é um paradoxo social: o trabalhador, estimulado a evitar vínculos, se vê desprotegido. O sindicato, por sua vez, perde a “água e o alimento” que garantiriam sua sobrevivência — o engajamento da base.

Como Juliana, o sindicalismo tenta se reinventar, encontrar forças internas para se mover. Mas está isolado, em um terreno inóspito, sem meios claros de resgate e enfrentando as intempéries de uma legislação hostil e da desmobilização progressiva.

Se nada for feito, o risco é claro: o enfraquecimento das entidades representativas pode arrastar consigo o próprio trabalhador, ainda confuso sobre seu papel e sobre os direitos que, aos poucos, também desaparecem.

  • Emerson Vieira é jornalista.

 

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