Em um artigo publicado na revista científica Nature: “Um consenso multinacional para acabar com a ameaça à saúde pública da covid-19”, 386 cientistas de 112 países divulgam uma lista com 57 recomendações para acabar com a ameaça da covid-19.
Dez desses cientistas são brasileiros e cinco deles membros da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
São, em suma, recomendações em seis áreas:
* desenvolver uma comunicação efetiva;
* fortalecer os sistemas de saúde; enfatizar a vacinação, mas não exclusivamente;
* promover medidas de prevenção;
* expandir os tratamentos;
* combater as desigualdades.
Os cientistas lamentam que o negacionismo político, como o do presidente Jair Bolsonaro, tenha exercido grande impacto na condução da panemia.
“Apesar dos notáveis avanços científicos e médicos, a resposta do mundo à covid-19 foi prejudicada por fatores políticos, sociais e comportamentais mais amplos, como informações falsas, hesitação em se vacinar, coordenação global inconsistente e distribuição desigual de equipamentos, vacinas e tratamentos”, afirma o texto.
Perigo continua
A Fiocruz lembra que os desafios não acabaram. Ao contrário: mundo enfrenta uma nova onda de contágio.
“O vírus prejudicou o atendimento de outras doenças e causa desafios devido à covid-19 de longa duração.
Além disso, o patógeno vem acumulando mutações. Isso pode fazer com que, eventualmente, ele consiga escapar da resposta imune provocada pelas vacinas e por infecções anteriores”.
Método e recomendações
O estudo utilizou uma metodologia chamada “Delphi”, que analisa diversos estudos e políticas públicas aplicadas. Então, o método busca consenso. Das 57 recomendações, 51 tiveram 95% ou mais de aprovação dos cientistas. “As recomendações de consenso resultantes podem servir como uma base sólida para a tomada de decisões para acabar com o Covid-19 como uma ameaça à saúde pública e permitir uma retomada mais durável das atividades sociais”, afirma o estudo.
Entre as recomendações, disponíveis na íntegra no site da Nature, a Fiocruz destaca as principais. São elas:
1 – Sistemas de saúde
A preparação e o planejamento de resposta à pandemia devem adotar uma abordagem de toda a sociedade, que inclua várias disciplinas, setores e atores (por exemplo, negócios, sociedade civil, engenharia, comunidades religiosas, modelagem matemática, militares, mídia e psicologia).
As estratégias de preparação e resposta devem adotar abordagens de todo o governo. Por exemplo, coordenação multiministerial, para identificar, revisar e abordar a resiliência nos sistemas de saúde.
2 – Comunicação
Líderes comunitários, especialistas científicos e autoridades de saúde pública devem colaborar para desenvolver mensagens de saúde pública que construam e aumentem a confiança individual e comunitária e usem os meios preferidos de acesso e comunicação para diferentes populações.
As autoridades de saúde pública devem fazer parcerias com indivíduos e organizações confiáveis em suas comunidades para fornecer informações precisas e acessíveis sobre a pandemia e informar as mudanças de comportamento.
Os profissionais e autoridades de saúde pública devem combater proativamente informações falsas. Com base em mensagens claras, diretas e culturalmente responsivas, livres de jargões científicos desnecessários.
3 – Prevenção
Todos os países devem adotar uma abordagem “vacinas mais”, que inclua uma combinação de vacinação contra a Covid-19, medidas de prevenção, tratamento e incentivos financeiros.
Iniquidades pandêmicas
A preparação e a resposta à pandemia devem abordar as iniquidades sociais e de saúde pré-existentes.
As organizações globais de comércio e saúde devem se coordenar com os países para negociar a transferência de tecnologias que permitam aos fabricantes de países de baixa e média renda desenvolver vacinas, testes e terapêuticas de qualidade garantida e acessíveis.
4 – Vacinação
O financiamento governamental, filantrópico e da indústria deve incluir um foco no desenvolvimento de vacinas que forneçam proteção duradoura contra diversas variantes do Sars-CoV-2.
5 -Tratamento e cuidado
Promover a colaboração multissetorial para acelerar o desenvolvimento de novas terapias para todas as fases da Covid-19 (por exemplo, ambulatório, hospitalização e Covid longa).