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O silêncio dos sindicatos: quando a omissão vira cumplicidade

Setembro costumava ser um mês de luta. As ruas, praças e avenidas eram ocupadas por trabalhadores exigindo seus direitos, lembrando conquistas históricas e enfrentando retrocessos. Mas hoje, o que vemos é um movimento sindical acuado, quase invisível, enquanto a extrema direita e setores empresariais ocupam o espaço público com força e organização.

A pergunta que não quer calar é: onde estão os sindicatos? Onde estão os líderes que outrora mobilizavam multidões? A Avenida Paulista, palco de tantas batalhas, mal sente o cheiro da resistência sindical. Enquanto isso, vemos 30, 40 mil manifestantes pedindo anistia para golpistas, enquanto os trabalhadores assistem calados, como se não fossem parte da história.

O que está acontecendo? Será que o movimento sindical se acovardou? Ou foi empurrado para a margem por um sistema que não o financia, não o apoia e não o reconhece? O governo, que se diz dos trabalhadores, não move uma palha para garantir condições mínimas de sobrevivência às entidades sindicais. Não há incentivo, não há estrutura, não há vontade política.

É preciso dizer com todas as letras: o movimento sindical está sendo sufocado. E pior, está sendo desacreditado. Enquanto figuras da extrema direita arrecadam milhões em doações via Pix, as centrais sindicais não conseguem mobilizar nem confiança, nem recursos. Por quê? Porque falta estratégia, falta comunicação, falta coragem.

A sobrevivência dos sindicatos não pode depender de esmolas ou de negociações obscuras. É preciso transparência, é preciso mobilização, é preciso reconectar com a base. Os trabalhadores precisam voltar a acreditar que o sindicato é seu instrumento de luta — e não um cartório burocrático.

Se o governo não age, cabe aos próprios sindicatos se reinventarem. Cobrar de si mesmos, assumir responsabilidades e retomar o protagonismo. Não é apenas uma questão de sobrevivência institucional. É uma questão de dignidade coletiva.

O Brasil precisa de um movimento sindical forte, combativo e presente. E isso começa com um manifesto — não apenas escrito, mas vivido nas ruas, nas fábricas, nos campos e nas redes. Porque quem cala, consente. E quem consente, se torna cúmplice do retrocesso.

  • Odeildo Ribeiro é presidente do Sintra Hotéis e da Federação dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade no estado do Espírito Santo.

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