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O Brasil está pronto para trabalhar menos?

A redução da jornada de trabalho voltou ao centro do debate político, social e econômico brasileiro. A última mudança significativa ocorreu em 1988, quando os trabalhadores conquistaram a redução de 48 para 44 horas semanais, sem corte salarial. Desde então, a pauta tem sido retomada por centrais sindicais, como na Campanha Nacional pela Redução da Jornada de Trabalho, lançada nos anos 2000.

Agora, o foco recai sobre o fim da escala 6×1 — regime que impõe seis dias consecutivos de trabalho para apenas um de descanso. A proposta reacende uma luta histórica que remonta ao século XVI, intensificada no século XIX, quando crianças eram submetidas a jornadas extenuantes de até 15 horas diárias.

Realidade Brasileira

Em 1800, o industrial britânico Robert Owen propôs um modelo revolucionário: 8 horas para trabalhar, 8 para lazer e 8 para descanso. Mais de dois séculos depois, essa divisão ainda parece distante da realidade de milhões de brasileiros.

A luta pela redução da jornada não é apenas uma questão de qualidade de vida. Ela envolve múltiplas dimensões:

  • Trabalhar menos para viver melhor
  • Trabalhar menos para que mais pessoas possam trabalhar
  • Trabalhar menos para que a Terra possa descansar

Trabalho e Ecologia

A lógica produtivista da Revolução Industrial — trabalhar, produzir, consumir — acelerou a degradação ambiental. Em 2024, o Dia da Sobrecarga da Terra ocorreu em 1º de agosto, evidenciando que estamos consumindo recursos naturais em ritmo insustentável.

O chamado “Novo Regime Climático” exige uma reorganização profunda do trabalho humano. A transição do trabalho de transformação para o trabalho de cuidado é urgente. Isso inclui:

  • Empregos voltados à restauração de biomas degradados
  • Reflorestamento, recomposição de matas ciliares e proteção da fauna e flora
  • Reecatingamento e recuperação de nascedouros de água

Inspirado por vozes como a de Davi Kopenawa, que denuncia a obsessão branca pelo trabalho e consumo, o texto propõe uma reconexão entre trabalho e ecologia. A ideia é remunerar quem cuida do planeta:

  • Plantio de árvores nas cidades
  • Manutenção de praças e jardins públicos
  • Cuidado com rios, lagos e praias urbanas
  • Criação de hortas e sistemas de captação de água da chuva
  • Uso de energia renovável em residências e escritórios

Flexibilização

Enquanto isso, o capital avança com novas formas de flexibilização da jornada: banco de horas, contratos atípicos, teletrabalho, trabalho aos domingos, falsa PJ, trabalho intermitente e plataformizado. A “uberização” transforma o trabalhador em peça de uma engrenagem que exige produtividade sem garantias.

Repetição Histórica

As grandes corporações alegam que o fim da escala 6×1 causaria uma “catástrofe econômica”. Argumento semelhante foi usado contra a abolição da escravatura, o 13º salário e a valorização do salário mínimo. A resistência não se dá por risco de falência, mas pela recusa em reduzir margens de lucro.

Dados do Caged mostram que os pedidos de demissão têm crescido exponencialmente, muitos deles associados à escala 6×1. Jornadas abusivas comprometem a saúde física e mental dos trabalhadores, corroendo sua qualidade de vida.

Futuro é a Redução

Mais do que uma reivindicação trabalhista, trata-se de uma proposta civilizatória. Reduzir a jornada é abrir espaço para o cuidado, para o lazer, para o planeta — e para uma nova forma de viver.

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