No último mês, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,87% ante julho, acima da alta de 0,71% esperada por economistas consultados pela Refinitiv, e o maior resultado para o mês desde 2000. Com isso, o indicador acumula altas de 5,67% no ano e de 9,68% nos últimos 12 meses.
No período, oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta, com destaque para os transportes, que tiveram a maior elevação nos preços. Puxado pelos combustíveis, o grupo registrou a maior variação (1,46%) e o maior impacto (0,31 p.p.) no índice geral.
Na avaliação de economistas do mercado financeiro, o dado traz um viés negativo, principalmente por conta da rápida disseminação e generalização de aumento dos preços no índice.
Com isso, os juros curtos avançam cerca de 45 pontos-base na sessão, precificando uma chance maior de alta de 125 pontos-base da Selic na próxima reunião e juros acima de 10% já em julho de 2022.
“As pressões não foram concentradas em um único componente, o que é uma grande preocupação pensando em política monetária. Vimos que a inflação é bem disseminada e atinge quase todos os setores da economia”, afirma João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos.
Segundo ele, o risco é de que essa alta generalizada continue pressionando a inflação de 2022, impulsionando as expectativas e forçando o Comitê de Política Monetária (Copom) a colocar a Selic em níveis acima de 8% ao ano.
Diante de dados de inflação mais elevados em agosto, o Credit Suisse já elevou suas projeções para o IPCA este ano, de 7,7% para 8,1%.
Na avaliação dos economistas do banco, os números divulgados nesta quinta reforçam uma dinâmica “muito negativa” para a inflação e mostram que as pressões inflacionárias no país continuam altas e não devem diminuir nos próximos meses.
“O processo de desinflação no país será difícil, pois a inércia está alta e as expectativas de inflação para 2022 continuam aumentando”, escreve o Credit Suisse.
Apesar de elevar as estimativas para o índice este ano, a casa mantém a projeção de inflação em 5,0% em 2022, com os riscos concentrados na alta.
Para a política monetária, o banco espera que o Banco Central aumente a taxa de juros em 100 pontos base nas próximas três reuniões consecutivas, atingindo 8,25% ao ano em dezembro de 2021.
Na XP, o time de macroeconomia afirma que a surpresa no indicador também deve ser incorporada à projeção para a inflação este ano, ficando acima de 7,7%, que é o cenário-base atual.
A casa chama atenção ainda para o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) divulgado na quarta-feira (9), que trouxe uma preocupação adicional com a pressão sobre os preços dos produtos, com maior repasse aos consumidores. Segundo a XP, isso deve elevar as projeções da casa para o IPCA de setembro e outubro.
“Pressões significativas de preços de custo e insumos, aumento da inflação de serviços, riscos político e fiscal persistentes, bem como a rápida generalização de efeitos de segunda ordem e forças inerciais já estão contaminando as perspectivas para a inflação em 2022”, escreveu, em relatório.
Neste cenário, Ramos espera alta de pelo menos 100 pontos-base da taxa Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a ser realizada neste mês.
O relatório Focus, do BC, mais recente, também espera elevação de 1 ponto percentual da Selic no próximo encontro, para 6,25%, com a taxa básica de juros encerrando este ano em 7,63% ao ano. Já para o IPCA, as expectativas apontam para alta de 7,58% em 2021.
“Em geral, a dinâmica recente (incluindo aumento das expectativas de inflação para 2021 e 2022 e o grande aumento nos preços dos combustíveis) requerem um acompanhamento atento e uma taxa de política acima do neutro”, completa Ramos.
Fonte: Infomoney