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Em dez anos, doenças mentais crescem 200% na Bahia, e prejudicam trabalhador

O número de trabalhadores afastados por transtornos mentais na Bahia disparou nos últimos dez anos, com crescimento superior a 200%. Em 2014, foram registrados 5.020 benefícios previdenciários por esse motivo; em 2024, o número saltou para 15.189, segundo dados do SmartLab BR, plataforma do Ministério Público do Trabalho (MPT).

Teletrabalho

Especialistas apontam que o avanço do teletrabalho, metas cada vez mais agressivas e o impacto da pandemia contribuíram para o aumento dos casos. “A plataformização e o uso excessivo da tecnologia facilitaram a rotina, mas também intensificaram o adoecimento”, afirma a procuradora do trabalho Carolina Novais.

A psiquiatra Simone Paes, do Idomed, destaca que o convívio social fragilizado e o aumento de assédios no ambiente profissional têm gerado sofrimento. “As exigências sempre existiram, mas hoje são mais intensas e desumanas”, diz.

Setores mais afetados

  • Bancos múltiplos – 26%
  • Atendimento hospitalar – 11%
  • Administração pública – 10,8%

O universo bancário, em especial, sofre com metas abusivas e pressão por resultados. “Há uma ameaça constante de substituição por máquinas e algoritmos, o que gera insegurança e adoecimento”, alerta Augusto Vasconcelos, presidente licenciado do Sindicato dos Bancários da Bahia.

Ansiedade e burnout lideram os diagnósticos

Nos casos acidentários — quando a doença está diretamente ligada ao trabalho — os principais diagnósticos são:

  • Transtornos de ansiedade – 33,2%
  • Reações ao estresse grave e transtornos de adaptação – 27,9%
  • Episódios depressivos – 20,1%

O burnout, embora não classificado como doença, é citado como um sinal de alerta. “É o esgotamento que precede o adoecimento mental”, explica o psiquiatra Lucas Alves.

Medidas e legislação

O MPT instaurou 50 inquéritos civis e nove ações judiciais entre 2020 e 2025 para investigar ambientes de trabalho nocivos. A Lei nº 14.457/2022 obriga empresas a combater o assédio moral, e a nova NR-1, prevista para entrar em vigor em 2026, exigirá ações preventivas para proteger a saúde mental dos trabalhadores.

Cada indivíduo, uma história

A psicóloga Mariza Monteiro lembra que o impacto do ambiente de trabalho varia conforme a história pessoal de cada profissional. “Pressões internas e externas se somam, e o mesmo contexto pode afetar pessoas de formas diferentes”, afirma.

Prevenção

Além de psicoterapia e medicação, especialistas defendem mudanças estruturais nas empresas. “É essencial que o retorno ao trabalho após afastamento seja acolhedor e respeitoso”, reforça a médica do trabalho Ana Paula Teixeira.

Fonte: O Correio, por Thais Borges

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