O Ministério da Saúde noticiou na segunda-feira (12/2) mais de meio milhão de casos prováveis de dengue no Brasil: são 512.353 casos suspeitos de dengue. O número é quase quatro vezes maior do que o observado no mesmo período do ano passado. As autoridades sanitárias também contabilizaram 75 mortes confirmadas apenas neste ano. Outras 350 ainda em análise.
Graves surtos de dengue vêm sendo registrados em diversos países da América Latina e da Ásia desde a segunda metade de 2023. Típica de regiões tropicais e subtropicais, a doença hoje já está presente também na Europa.
Disseminação
Entre os motivos por trás do grave surto de dengue no Brasil, provavelmente estão as fortes chuvas e as altas temperaturas dos últimos meses. Tais condições favorecem o desenvolvimento do Aedes aegypti, um dos mosquitos que carregam o vírus da doença. Uma nova vacina contra ela será agora oferecida numa campanha de vacinação que começou este mês em vários estados do Brasil.
O Aedes aegypti se adapta particularmente bem a ambientes urbanos. O mesmo não acontece com o Aedes albopictus, espécie parente conhecida como mosquito-tigre-asiático devido às suas manchas pretas e brancas características. Ambas podem transmitir a dengue.
Os mosquitos do gênero Aedes são nativos de regiões tropicais e subtropicais. Entretanto, devido às mudanças climáticas e ao aquecimento global, eles encontram agora condições de vida cada vez melhores na Europa. os mosquitos preferem climas de umidade e calor.
Sintomas
Ainda que casos graves ou mesmo mortes sejam raros, a dengue não é uma doença viral inofensiva. Os primeiros sinais, geralmente, aparecem dentro de quatro a dez dias após a picada de um mosquito infectado.
Os sintomas mais comuns incluem febre alta repentina, fortes dores de cabeça, dores articulares e musculares muito desagradáveis e erupções cutâneas que se espalham do tronco até os braços, pernas e rosto. Pessoas infectadas também reclamam de dores no fundo dos olhos, fraqueza e fadiga.
Em casos graves, um médico deve ser consultado imediatamente, pois podem ocorrer sangramentos e complicações potencialmente fatais.
Erro no tratamento
Como muitos sintomas são semelhantes, a dengue é frequentemente confundida com gripe ou outras infecções virais, como a malária ou a doença do vírus Zika, levando assim a um tratamento incorreto.
Não existe nenhum teste rápido simples e barato capaz de detectar a dengue. Um diagnóstico confiável exige exames de sangue em laboratórios especializados.
Medicamentos bons e ruins
Dado que ainda não há uma terapia antiviral específica, como existe para a malária, o tratamento se limita ao alívio dos sintomas. É importante ficar atento para uma ingestão adequada de água, já que a doença pode provocar grande perda de líquidos, sobretudo por meio de febre e vômitos.
Medicamentos como paracetamol podem ser usados para aliviar a febre e a dor. Já o uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como o ibuprofeno, deve ser evitado, pois pode aumentar o risco de sangramento. Isso também se aplica a medicamentos que contêm o ingrediente ativo ácido acetilsalicílico, como a aspirina, porque ele afina o sangue.
A imunidade
Existem quatro sorotipos diferentes do vírus da dengue, denominados DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Quem é infectado por um determinado sorotipo geralmente fica imune a esse sorotipo específico – mas não aos outros. Além disso, a imunidade pode diminuir com o tempo.
Proteção
O Aedes aegypti e o Aedes albopictus preferem picar suas vítimas ao ar livre pela manhã e no fim de tarde. Eles evitam o sol escaldante e preferem ficar na sombra. Por isso, é importante passar repelente de mosquitos no corpo durante o dia e, se possível, vestir roupas compridas que cubram também os braços e as pernas.
Eles põem seus ovos em pequenos reservatórios de água parada, como vasos de flores, barris de chuva ou pneus de carros. Tais focos de propagação devem ser evitados e, se possível, removidos ou cobertos.
Vacina
Atualmente, há duas vacinas aprovadas. Uma delas é a Dengvaxia da Sanofi Pasteur, que oferece proteção contra os quatro sorotipos do vírus e deve ser administrada em doses múltiplas para fornecer proteção suficiente. Essa vacina, no entanto, traz uma desvantagem: depois da vacinação com a Dengvaxia, há um maior risco de desenvolver um quadro grave da doença no caso de uma infecção posterior por uma picada.
Se após a vacinação não são produzidos anticorpos suficientes para criar imunidade completa contra todos os quatro sorotipos do vírus da dengue, pode ocorrer o que é conhecido como “potencialização dependente de anticorpos” (ADE, na sigla em inglês). As partículas do vírus podem então entrar nas células e piorar a infecção em vez de combatê-la.
É por isso que a Dengvaxia praticamente não é usada na Europa. Na maioria das vezes, a vacina só é recomendada em áreas onde a dengue já é endêmica, ou seja, ocorre de forma constante e regular.
A segunda vacina, a Qdenga, da Takeda, causa menos efeitos colaterais e pode ser aplicada a partir dos quatro anos de idade. Essa nova vacina, porém, oferece eficácia confirmada de longo na prevenção de hospitalização apenas contra três sorotipos de dengue (não foi confirmada para o sorotipo DEN-4 devido à menor incidência de casos no estudo de longo prazo). A Qdenga é o imunizante utilizado na campanha de vacinação no Brasil.
Vacinação no Brasil
No Brasil, a vacina contra a dengue será ser aplicada em parte da população de regiões endêmicas a partir de fevereiro.
A campanha deverá atender 521 municípios distribuídos em 37 regiões de saúde do país, com Goiás (134), Bahia (115) e Mato Grosso do Sul (78) concentrando o maior número de municípios contemplados.
A definição de um público-alvo e regiões prioritárias para a imunização foi necessária em razão da capacidade limitada de fornecimento de doses pelo laboratório fabricante da vacina.
A metodologia utilizada para a escolha dos locais teve como ponto de partida os municípios de grande porte (população igual ou maior do que cem mil habitantes) com alta transmissão nos últimos 10 anos.
Deverão ser vacinadas as crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, faixa etária que concentra o maior número de hospitalização por dengue – 16,4 mil de janeiro de 2019 a novembro de 2023, atrás apenas dos idosos, grupo para o qual a vacina não foi autorizada pela Anvisa. O esquema vacinal será composto por duas doses, com intervalo de três meses entre elas.
Fonte: Agencia Brasil