Quase 92 milhões de brasileiros acima de 16 anos de idade não exerceram atividade remunerada em setembro. É o que revela uma pesquisa nacional sobre o panorama do desemprego durante a pandemia de covid-19, realizada pelo Instituto DataSenado entre os dias 11 e 18 daquele mês. Divulgado nesta terça-feira (6), o levantamento foi feito por telefone com 5 mil brasileiros de todos os estados brasileiros.
Do total de entrevistados, 55% afirmaram não ter exercido atividade remunerada na semana anterior à pesquisa, e 27% disseram estar à procura de emprego. Esse percentual corresponde a aproximadamente 24 milhões de pessoas. Para a maioria do grupo ouvido na pesquisa (97%), está mais difícil conseguir trabalho em razão da pandemia causada pelo coronavírus.
O senador Paulo Paim (PT-RS) destacou a importância dos dados coletados pelo DataSenado e demonstrou preocupação com esses números. Ele criticou o governo federal pela redução do valor do auxílio emergencial — de R$ 600 para R$ 300 — e defendeu a retomada da quantia original, bem como do pagamento de R$ 1,2 mil para mulheres chefes de família. De acordo com o senador, essa seria uma forma de minimizar os impactos da crise sobre as pessoas de baixa renda e as sem remuneração mostradas na pesquisa.
— Segundo a FGV [Fundação Getúlio Vargas], cerca de 38 milhões de brasileiros ficarão desamparados com o fim do auxílio emergencial previsto para dezembro. Dinheiro que é usado para comprar alimentos, remédios. É uma questão humanitária — disse Paim à Agência Senado.
Segundo a senadora Zenaide Maia (Pros-RN), o estudo do DataSenado mostra que o cenário trazido pelo coronavírus somente agravou a crise já existente em 2019, quando havia mais de 13 milhões de brasileiros na extrema pobreza. Para Zenaide, os números confirmam o que parlamentares como ela vêm declarando há algum tempo: “O governo federal não apresentou até agora nenhum plano para alavancar a economia”.
— As únicas propostas apresentadas pelo ministro da Economia [Paulo Guedes], que, com todo o respeito, é ministro do mercado financeiro, tratam de ajuste fiscal em cima de uma população que já enfrenta desemprego e fome e a venda das empresas públicas, que dão lucro. Nenhum país do mundo saiu de uma crise econômica sem seu maior investidor, que, no nosso caso, é o Estado brasileiro — afirmou.
Diretrizes
Entre os que não exerceram atividade remunerada na semana anterior ao levantamento do DataSenado, 73% afirmaram não ter tomado providência efetiva para conseguir trabalho. Esse percentual inclui aposentados, donas de casa e também brasileiros que poderiam estar trabalhando mas desistiram de procurar emprego. Nesse último grupo, 36% disseram que o fato de o país estar em meio a uma pandemia influenciou a decisão de não procurar trabalho, o que corresponde a aproximadamente 24 milhões de cidadãos.
Na opinião de 80% dos brasileiros que afirmaram não ter exercido atividade remunerada na semana anterior ao levantamento de setembro, a recuperação da economia vai ser lenta depois do fim da pandemia.
As amostras do DataSenado são representativas da opinião da população brasileira e têm o objetivo de ajudar os parlamentares na definição de prioridades. Nesse sentido, Paim acredita que a proposta de renda mínima a ser concedida após o fim do auxílio emergencial pode ser uma saída. Para ele, é fundamental a rápida regulamentação da Lei 10.835, de 2004, que instituiu a Renda Básica de Cidadania.
Ao declarar que a nação sofre por não haver um comando único sobre o assunto, o senador disse que vê dificuldades para a recuperação econômica. Paim defende a aprovação de uma reforma tributária que não penalize os pobres.
— O Brasil está horrorizado com a alta dos preços da cesta básica, da luz, do gás, dos combustíveis. Em 12 meses, a cesta básica teve um aumento de quase 25%. É preciso uma reforma tributária progressiva, que desonere os produtos de primeira necessidade, que não penalize os pobres. É um absurdo que hoje 51,22% do salário mínimo seja gasto com uma cesta básica.
Paim também ressaltou a necessidade de ações como o fortalecimento de programas sociais, a exemplo do Bolsa Família, mais investimentos no Sistema Único de Saúde (SUS), a extinção da Emenda Constitucional 95, que congelou os gastos públicos por 20 anos, bem como a retomada da política de valorização do salário mínimo.
— É geração de emprego e renda [já que] 100 milhões de pessoas dependem dele. O comércio gira, todos ganham: trabalhadores, empregadores, aposentados. Para cada R$ 1 a menos no salário mínimo, o governo deixou de arrecadar R$ 0,54 em tributos. Além disso, é fundamental a união de esforços em todas as esferas de Poder e garantir que trabalhadores informais, autônomos, micro e pequenos empresários neste país sejam assistidos — observou.
Fonte: Agência Senado