A BRF, uma das maiores empresas do setor alimentício do país, voltou a ser alvo de críticas após instalar um dispositivo sonoro na unidade de Carambeí (PR), apelidado pelos trabalhadores de “buzina da produtividade”. O equipamento, que emite um som extremamente alto, tem como objetivo acelerar o ritmo da linha de produção e reduzir paradas operacionais.
Segundo relatos ao sindicato local (SINTAC), o barulho é comparável ao de uma turbina de avião. “Parece uma turbina de avião”, afirmou um funcionário que procurou a entidade sindical. A medida teria reduzido significativamente o número de pausas durante o turno — de cerca de 10 a 15 interrupções para apenas quatro — mesmo quando há necessidade física ou técnica de parar.
Impacto na saúde
O médico do trabalho Roberto Ruiz, doutor em doenças ocupacionais em frigoríficos, alerta para os riscos da exposição a ruídos intensos. “O nível de ruído de uma turbina de avião pode ultrapassar 130 decibéis, e isso é muito prejudicial à saúde dos trabalhadores”, afirma.
Ruiz destaca que o uso da buzina pode agravar o ambiente laboral, afetando não apenas a audição, mas também contribuindo para o aumento do estresse, transtornos psicológicos e doenças como hipertensão arterial. “Dependendo do nível de ruído, a empresa pode ser obrigada a arcar com custos adicionais de saúde e segurança”, acrescenta.
Negligência
A instalação do dispositivo ocorre meses após um episódio grave envolvendo a BRF. Em Lucas do Rio Verde (MT), uma funcionária grávida foi impedida de deixar a linha de produção mesmo após relatar dores intensas. Sem atendimento médico, entrou em trabalho de parto na porta do frigorífico. Os dois bebês morreram logo após o nascimento.
Sindicato alerta
O SINTAC afirma que um alto funcionário da unidade de Carambeí declarou publicamente: “Quero que esse barulho seja o mais alto possível, para que a produção aumente!”. A entidade sindical questiona se a gerência estaria disposta a instalar o mesmo dispositivo em seus escritórios.
O sindicato informou que buscará diálogo com a direção da BRF, tanto local quanto nacional, para exigir a retirada imediata da buzina. Caso não haja resposta, pretende acionar a Justiça e recorrer a organizações nacionais e internacionais de defesa dos direitos trabalhistas.
Um vídeo divulgado mostra o som da buzina em ambiente industrial, gravado a certa distância do local de instalação — ainda assim, o ruído é intenso.
Fonte: UITA, por Wagner do Nascimento Foto: Divulgação
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