Mesmo diante de uma década marcada por ataques sistemáticos ao movimento sindical, os sindicatos brasileiros seguem resistindo. É o que revela o mais recente levantamento do IBGE, divulgado em setembro de 2025: embora tenham perdido 6,2 milhões de filiados desde 2012, ainda representam 8,4 milhões de trabalhadores em meio a uma força de trabalho de mais de 100 milhões de pessoas.
A queda é significativa — só em 2023, foram 713 mil desligamentos — e reflete um cenário de desmonte institucional iniciado com a Reforma Trabalhista de 2017, aprofundado pela extinção do Ministério do Trabalho durante o governo Bolsonaro e agravado pela precarização das relações laborais. A taxa de sindicalização, que era de 16% em 2012, caiu para apenas 8,4% em 2023, o menor índice da série histórica.
Divisor de águas
Aprovada sob o governo Temer, a Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017) flexibilizou direitos, legalizou novas formas de contratação precária — como o trabalho intermitente — e enfraqueceu a capacidade de negociação coletiva. Ao transferir o poder de negociação diretamente para o trabalhador individual, a reforma desarticulou a mediação sindical, minando sua relevância institucional.
Além disso, o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical e a retirada dos sindicatos de processos como homologações e fiscalizações contribuíram para o esvaziamento financeiro e político das entidades. O resultado foi um enfraquecimento estrutural que comprometeu a capacidade de mobilização e representação da classe trabalhadora.
Bolsonaro fustigou
Durante o governo Bolsonaro, o movimento sindical enfrentou um verdadeiro cerco institucional. A extinção do Ministério do Trabalho, a fragilização da Justiça do Trabalho e a redução dos espaços de participação das centrais sindicais nas políticas públicas aprofundaram a crise. A lógica neoliberal, aliada ao discurso do empreendedorismo individual, promoveu uma cultura antissindical que deslegitima a organização coletiva.
Mais afetados
A queda na sindicalização atingiu todos os setores, mas foi mais acentuada em áreas como transporte (de 20,7% para 7,8%), indústria (de 21,3% para 10,3%) e administração pública (de 24,5% para 14,4%). Ainda assim, o funcionalismo público mantém a maior taxa de sindicalização (18,3%), graças à estabilidade dos contratos estatutários.
Reconstrução
Apesar do cenário adverso, especialistas apontam que os sindicatos não são atores passivos. Movimentos de renovação sindical vêm sendo adotados em diversas partes do mundo, com estratégias que incluem a ampliação da base de representação — como migrantes e trabalhadores informais — e a incorporação de novas pautas, como saúde mental, igualdade de gênero e meio ambiente.
A professora Fernanda Forte de Carvalho, da UEL, destaca que sindicatos fortes são pilares fundamentais para democracias robustas. “A crise é real, mas a resposta também está em curso. A revitalização sindical é uma necessidade histórica para garantir trabalho decente, justiça social e participação democrática”, afirma.
Estrutura intacta
Apesar das perdas, o setor sindical ainda conta com uma estrutura significativa: são 43 confederações, 549 federações e mais de 10 mil sindicatos reconhecidos oficialmente. Essa base institucional, embora fragilizada, continua sendo um instrumento essencial de luta e negociação em um país onde a desigualdade e a exploração do trabalho persistem.
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