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Expediente aos domingos e feriados desestimula os jovens

O setor de turismo e hospitalidade vê com preocupação algumas metas traçadas por parlamentares em relação ao trabalho nessas áreas. Os jovens, em especial, sentem-se desestimulados diante de certas práticas. A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade, por meio de seu site, vai analisar alguns Projetos de Lei que tramitam no Congresso Nacional e que podem afetar diretamente os trabalhadores do setor.

Um dos primeiros é o PL nº 5516/2023, que trata do trabalho aos domingos e feriados. De autoria do senador Rogério Marinho (PL/RN) — considerado um dos principais opositores ao sindicalismo brasileiro — o projeto já tem pauta pronta na Comissão de Assuntos Sociais. Em tese, ele altera a CLT e as Leis nº 605/1949 e nº 10.101/2000 para permitir o trabalho nesses dias com remuneração em dobro, exceto se houver folga compensatória na mesma semana.

Impacto direto

O setor de turismo e hospitalidade já opera intensamente aos domingos e feriados. Hotéis, pousadas, bares, restaurantes, parques temáticos, agências de turismo e eventos dependem desses dias para funcionar. O PL, portanto, não cria uma nova realidade, mas legaliza e flexibiliza o que já ocorre — com uma roupagem que pode ser tanto protetiva quanto permissiva.

Jovens repelem

Há um dilema entre os jovens, que se afastam do setor por diversos motivos. Os principais são:

  • Falta de previsibilidade de folgas: Jovens valorizam tempo livre para lazer, estudo e convivência familiar. A ausência de domingos e feriados como descanso desestimula a entrada no setor.
  • Baixa valorização simbólica: Trabalhar quando todos descansam reforça a percepção de que o setor exige sacrifícios desproporcionais.
  • Descompasso com outras áreas: Enquanto setores administrativos oferecem finais de semana livres, o turismo exige disponibilidade total — sem compensações claras.
  • Desgaste emocional: A rotina intensa em datas comemorativas (Natal, Ano Novo, Carnaval) afasta quem busca equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Pontos positivos

  • Reconhecimento formal da prática existente: Evita insegurança jurídica e padroniza regras.
  • Remuneração em dobro: Pode ser um atrativo financeiro, desde que efetivamente aplicada.
  • Flexibilidade para escalas: Permite ajustes operacionais em períodos de alta demanda.

Pontos críticos e riscos

  • Folga compensatória como brecha: A possibilidade de substituir o pagamento em dobro por uma folga pode ser usada para driblar a valorização financeira do trabalhador.
  • Pressão sobre jornadas: Pode intensificar o uso de escalas exaustivas, especialmente em empresas com baixa fiscalização.
  • Desvalorização do descanso dominical: O domingo como espaço de convivência social e familiar perde força.
  • Desestímulo à profissionalização: A juventude pode continuar evitando o setor, agravando a escassez de mão de obra qualificada.

Como resolver

O PL 5516/2023 precisa ser revisitado com foco na atratividade profissional. O turismo e a hospitalidade não podem ser vistos como “trabalho de sacrifício”, mas como carreiras com propósito, cultura e reconhecimento. Para isso, é essencial:

  • Garantir que a folga compensatória seja negociada coletivamente
  • Estabelecer limites claros para jornadas em feriados consecutivos
  • Criar incentivos para formação e valorização dos profissionais do setor
  • Promover campanhas que mostrem o lado positivo da profissão, sem romantizar a precariedade.

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