Trabalhadores que compartilham o dia a dia no emprego estão conquistando seguidores, mas também enfrentando advertências e demissões.
Um novo fenômeno vem ganhando força nas redes sociais e gerando debates dentro das empresas: os chamados “blogueiros CLT”. São profissionais que, além de cumprir expediente, produzem conteúdo sobre sua rotina de trabalho — muitas vezes com humor, leveza e autenticidade. O resultado? Vídeos virais, milhares de seguidores e, em alguns casos, problemas com os empregadores.
A psicóloga Thamiris Castro, de 30 anos (fotos), é um exemplo emblemático. Funcionária de presídios no Rio de Janeiro, ela começou a postar vídeos no TikTok sobre sua vivência profissional. Com milhões de visualizações, virou referência entre os “blogueiros CLT”. Mas pouco mais de um ano depois, foi demitida. Em entrevista ao g1, Thamiris disse acreditar que a exposição nas redes influenciou diretamente na decisão — especialmente após sua chefe começar a segui-la online.
O Brasil tem cerca de 10 milhões de criadores de conteúdo, segundo o relatório The Creator Revolution. Isso representa 1 em cada 20 brasileiros. No entanto, menos de 4% vivem exclusivamente dessa atividade. A maioria concilia a produção de conteúdo com empregos formais — o que explica o crescimento dos “blogueiros CLT”.
Embora a legislação trabalhista não proíba funcionários de publicar nas redes sociais, há limites claros: conteúdos que revelem informações sigilosas ou prejudiquem a imagem da empresa podem levar à demissão por justa causa. E é justamente nesse limiar entre liberdade de expressão e reputação corporativa que o debate se intensifica.
Outro caso é o de Geovanna Pedroso, de 23 anos, profissional de marketing que começou a criar conteúdo sobre moda e comportamento em 2019. Mesmo sem mencionar o nome da empresa onde trabalhava, enfrentou constrangimentos: piadas de colegas e chefes, além de olhares atravessados no ambiente corporativo.
Segundo estudo da FGV em parceria com a Hotmart, a chamada Creator Economy cresceu 30% no Brasil em 12 meses, gerando mais de 389 mil ocupações diretas e indiretas. A maioria dos criadores tem menos de 40 anos e alto nível de escolaridade — o que reforça o perfil profissionalizado desse novo tipo de trabalhador.
O fenômeno levanta questões importantes: até que ponto o trabalhador pode se expressar livremente nas redes? E como as empresas devem lidar com essa nova forma de exposição, que mistura vida profissional e pessoal?
Enquanto isso, os “blogueiros CLT” seguem conquistando espaço — e provocando reflexões sobre trabalho, identidade e liberdade digital.
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