A Hora do Povo fez entrevista exclusiva com Moacyr Auersvald, presidente interino da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST). A entidade tem, hoje, 1.152 sindicatos filiados, segundo a planilha do Ministério do Trabalho, apresentada antes da pasta ser extinta por Bolsonaro, e agrega as principais confederações e federações do país. Moacyr declarou que o documento apresentado por Clemente Ganz Lúcio (assessor do Fórum das Centrais) que circula entre os sindicatos não foi discutido pelo Fórum e está “cheio de pegadinhas”. “Está colocado que é um projeto pela valorização e fortalecimento da negociação coletiva, mas esse documento tem questões que trazem profundas alterações na estrutura sindical”.
Leia abaixo a entrevista:
Hora do Povo – Qual é a “pegadinha” do documento?
Moacyr Auersvald – Querem sair das asas do Ministério do Trabalho, mas submetendo todo mundo a um Conselho que já estabelece que a presidência será exercida por um rodízio das três maiores centrais. O documento diz respeitar o artigo 8º e a unicidade sindical, mas o Conselho vai aferir a representatividade das entidades sindicais. A partir daí, você está abrindo a possibilidade de ter uma pluralidade sindical. Até porque há interesses escusos em deixar a entidade ‘A’ de fora, por ser mais combativa.
O próprio patrão tem interesse em danificar a imagem dessa entidade perante os trabalhadores. Há a possibilidade de duas entidades sindicais, do mesmo segmento, de duas centrais distintas, fazerem o combate, uma pelo esvaziamento da outra.
HP – Rifa as confederações e federações?
Moacyr – Não só. Os sindicatos também. Pelo documento, em dez anos as confederações e federações farão parte do corpo das centrais, passarão a ser orgânicas dentro de cada central. Nós não entendemos que deva ser assim. O artigo 8º da Constituição, que dizem respeitar, afirma que nosso sistema é confederativo. As confederações e federações são plurais, corporativas e representam o conjunto de suas áreas.
O documento diz que vão ser 20 setores, ou ramos de produção. Quais são as categorias que serão excluídas, ou que eles têm interesse de excluir? Quando falam em agregação, é sempre uma categoria grande incorporando as pequenas. E os nossos companheiros das categorias diferenciadas? Os motoristas, o pessoal da enfermagem, que são muito bem representados? A “agregação” de duas categorias não vai ser por uma decisão entre as categorias, ou por uma questão de base, mas por uma decisão que uma delas deve ser excluída.
HP – Você não acha que esse documento é parente próximo do Fórum Nacional do Trabalho de 2005?
Moacyr – Esse documento é o espelho do projeto do Fórum Nacional do Trabalho, que já foi rejeitado pelos trabalhadores no Brasil inteiro. Será lamentável se o Marinho entrar nessa novamente. O Bargas correu o Brasil inteiro com relatório do Ministério do Trabalho e foi derrotado em todos os estados.
HP- Na sua opinião, o que é mais grave no documento?
Moacyr – Na abertura do documento é colocado que a parte mais importante do sistema de negociação coletiva são os sindicatos, mas é dado com uma mão para lá no meio do documento colocar a pirâmide sindical de cabeça para baixo, transformando os sindicatos em meros departamentos das centrais, sem autonomia alguma.
A nossa história, a nossa vida, a nossa central é dedicada à defesa da estrutura sindical. Uma reforma que vem de cima para baixo não vai prosperar. Não acredito que os sindicatos vão abrir mão de negociar pelas suas categorias para serem representados por ‘A’ ou por ‘B’. Não é fácil entender a maldade que estão fazendo.
HP – O que fazer?
Moacyr – Do ponto de vista emergencial e imediato, acatar a convocação do presidente Lula de fortalecer os sindicatos – fortalecendo a democracia – e lutar pelo aumento real do salário mínimo para 1.343 reais e pelo reajuste da tabela do imposto de renda, isentando quem ganha até 5 mil reais. E trabalhar pela aprovação de uma medida provisória que restabeleça, fortaleça a negociação coletiva e o sistema de custeio dos sindicatos com a contribuição negocial aprovada em assembleia da categoria.
Fonte: Hora do Povo