Renata afirmou que o caso dela é a prova de que a doença existe e pode acometer pessoas de todas as idades. Ela lembrou que a recomendação de isolamento social precisa ser seguida à risca.
“O que precisa ser feito é o isolamento. É esse gesto de amor”, disse a advogada.
“As pessoas vão sentir dor de cabeça e outros sintomas achando que não é nada. A única coisa a fazer é ficar em casa. Só nos resta isso. É uma oportunidade de refletir como ser diferente, como ser uma pessoa melhor”, defendeu.
Sintomas
Acostumada a uma rotina de viagens, a advogada acordou com dores na cabeça e no restante do corpo no começo de março, quando ainda não havia confirmações em Pernambuco da doença. Achou que era uma virose, comum no pós-carnaval. Tinha curtido a festa no Rio de Janeiro e no Recife. Viajou para um congresso em Fortaleza e depois pra Fernando de Noronha, com um grupo de 18 pessoas. Foi quando começou a tossir e ter uma leve coriza. Assim como surgiam, os sintomas desapareciam ao longo do dia. Voltou da ilha para o Recife e já partiu para Blumenau, em Santa Catarina, numa viagem a trabalho. Tudo isso num intervalo de oito dias.
A ficha só começou a cair quando, na volta para a capital pernambucana, notou que todo mundo só falava do novo coronavírus em São Paulo, onde o avião fez escala. Muita gente estava usando máscaras na ocasião.
“Quando pego o avião São Paulo/Recife, tento dormir e sinto uma sensação estranha. Puxava o ar e não vinha. Já tinha algumas pessoas de máscara, mas não imaginava. Eu nem sonhava em coronavírus, mas senti algo estranho”, lembrou.
Mesmo com sintomas leves, assim que soube que tinha entrado em contato com uma pessoa que esteve na Europa, ela decidiu ir ao hospital, no dia 13 de março. Desta consulta, partiu para o isolamento domiciliar e aguardou o resultado do exame.
“Vim diretamente para minha casa e aqui estou até hoje, seguindo um protocolo de isolamento absoluto que em nenhum momento hesitei de cumprir”, afirmou.
A espera pela ligação da Secretaria de Saúde terminou três dias depois dos exames, quando recebeu a resposta que o resultado para o novo coronavírus tinha dado positivo e o governo queria o nome de todas as pessoas com quem ela teve contato, assim como os locais que tinha passado.
“Os primeiros dias foram uma das piores partes. Aquela ansiedade de você saber se tem ou não, conviver com a possibilidade de passar para as pessoas que você ama. Meu pai tem 70 anos e problemas pulmonares sérios. Meu sobrinho tem meses [de idade], meus colegas de trabalho e de todos que tive contato. Era um pavor”, contou.
O telefone não parou de tocar nos dias seguintes. A notícia se espalhou entre parentes, amigos e desconhecidos, o que a fez publicar uma nota numa rede social.
“Minha vida se transformou. Muita gente entendeu como um ato de coragem, mas também tinham as coisas ruins. Dizendo que eu treinei em uma academia sabendo que estava com o corona (sic), mensagens de ódio e várias outras fake news”, lembrou.
A advogada ficou sempre em isolamento social, sem precisar ser internada. Ainda assim, disse que a situação é pior que uma gripe comum. “Eu comecei a sentir os sintomas mais fortes e as limitações respiratórias, [estando] longe dos meus pais e de quem eu amo. Naquele tempo, eu me perguntava, ‘Deus por que comigo? O que fiz para merecer isso?’”, contou. empresa em que ela trabalha disponibilizou um médico infectologista 24 horas para acompanhá-la. Renata, que pratica esportes desde pequena e treinava todos os dias, sentiu o baque de ter que ficar em casa. O medo era um sentimento constante: medo de uma doença desconhecida, de mostrar fragilidade aos pais, da reação dos amigos, de que a saúde piorasse.
Assim, alternou dias bons e ruins, permeados de notícias de mortes em outros países. Tudo isso se misturava na cabeça da advogada, como uma bomba prestes a explodir. Não tinha remédio que aliviasse as tensões.
No sábado (21), a Secretaria Estadual de Saúde anunciou duas curas clínicas: a dela e a de uma adolescente de 16 anos, diagnosticada com a doença após retornar de uma viagem aos Estados Unidos. Além de Renata e da adolescente, outras três mulheres estão entre as curadas.
“Estou muito feliz de ter me recuperado. Hoje, eu olho para trás e digo: ainda bem que foi comigo, que tenho consciência de que tinha que fazer a minha parte. Tive a oportunidade de melhorar como pessoa e profissional e de perceber como a fé e o amor podem alcançar a vida de uma pessoa”, comentou.