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Com impacto do coronavírus, Brasil deve voltar a ter recessão neste ano

A economia brasileira caminha para uma recessão neste ano. Com o impacto do coronavírus, bancos e consultorias voltaram a revisar para baixo as projeções para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) e parte dos analistas dá como certa uma retração da atividade, o que não ocorre desde 2016. Para a maioria deles, a dúvida já é de qual vai ser o tamanho da queda.

O avanço do coronavírus tem provocado uma paradeira na economia global e nacional. Parte da população está isolada em casa, o varejo baixou as portas para ajudar a conter a propagação do vírus, e fábricas tiveram de interromper ou reduzir a produção. Na ponta, o resultado dessa combinação perversa são as demissões anunciadas pelas empresas, o que vai piorar o quadro do emprego no país.

Na rua 25 de março, em São Paulo, comércio fechado na sexta-feira (20) para evitar a propagação do novo coronavírus — Foto: Marcelo Brandt/G1

A última vez que o mundo sentiu um impacto tão grande foi na crise financeira de 2008. No Brasil, a doença chegou num momento muito ruim. Os últimos números da economia no ano passado já apontavam para uma perda de ritmo. Antes de o surto se propagar, as projeções para o desempenho do PIB neste ano já estavam sendo reduzidas, já próximas a uma expansão de 1,5%.

Na leitura dos analistas, o estrago maior na economia brasileira deverá ser observado no segundo trimestre, quando os efeitos da paralisação da economia serão sentidos de forma mais intensa. “Parece que o efeito maior da crise se dará, de fato, no segundo trimestre, em que o contágio atingirá seu pico”, escreveu em relatório o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale.

Nas projeções da MB Associados, a atividade econômica deve recuar 0,3% no primeiro trimestre de 2020 na comparação com os últimos três meses do ano passado. No segundo trimestre, o tombo deve ser de 6,5%.

Tamanho do tombo

Por ora, tem sido difícil apontar qual será o real tamanho da recessão esperada para este ano. A única certeza é de que houve uma deterioração acentuada da economia nos últimos dias. A dificuldade de se dá porque é impossível saber qual será a duração do isolamento social no país.

Um exercício da consultoria Tendências deixou bem claro como o PIB pode variar neste ano a depender dos dias de isolamento. O cenário-base da consultoria é de uma retração da atividade econômica de 1,4%, num quadro em que 22 dias úteis serão perdidos com a paralisação.

Num cenário otimista, com apenas nove dias úteis desperdiçados, o Brasil ainda poderá crescer 0,2%. Num quadro pessimista, com 32 dias úteis comprometidos, o PIB deve despencar 3,3%.

Na semana passada, o Itaú também fez um exercício parecido, de como o resultado da economia pode variar, a depender do impacto do coronavírus. O banco estima que o PIB deve recuar 0,7% neste ano, levando em conta que o Brasil tenha um bloqueio equivalente a 75% do chinês.

Se o impacto for equivalente a 100% do bloqueio chinês, a queda do PIB brasileiro será de 1,6%. Num cenário mais positivo, em que o choque é de apenas 50% do observado na China, o Brasil ainda poderá colher um crescimento de 0,2%. “É uma crise que parece ser temporária. O produto cai muito e depois volta para o patamar em que deveria estar”, disse o economista-chefe do banco Itaú, Mario Mesquita.

O banco estima que o PIB do segundo trimestre deve recuar 9,6% no segundo trimestre na comparação com os três meses anteriores, com uma recuperação de 11,9% no período de julho a setembro.

Piora do mercado de trabalho

A volta da recessão no Brasil – a última foi em 2016 – também vai marcar uma reversão no mercado de trabalho. Os números do emprego até mostravam uma tímida melhora, mas os analistas já voltaram a projetar uma piora do quadro.

O banco UBS, por exemplo, estima que a taxa de desemprego medida pela Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios Contínua Mensal, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deve encerrar o ano em 12,5%, nos dados dessazonalizados. Em janeiro, a desocupação ficou em 11,2%, com 11,9 milhões desempregadas.

“O desemprego encerrou o ano passado melhorando, mas este ano deve terminar com uma piora, subindo”, afirmou Fabio Ramos, economista do UBS Brasil.

 quadro de trabalho também traz preocupações porque uma parcela importante da força de trabalhado está na informalidade – eram 38,3 milhões de trabalhadores em janeiro. Esse contingente deve sofrer com um impacto na renda diante da paralisação de toda a economia.

“Certamente o mercado de trabalho vai piorar, sobretudo quando a gente pensa em ocupação. A nossa projeção era de um crescimento de 1,6% da ocupação neste ano, mas vamos rever este número para baixo”, disse Alessandra, da Tendências.

Medidas do governo

equipe econômica tem anunciado uma série medidas para tentar mitigar os efeitos da pandemia do coronavírus na atividade econômica. O Banco Central reduziu novamente a taxa básica de juros e já disponibilizou R$ 1,2 trilhão para o sistema bancário tentar manter o mercado de crédito funcionando.

O governo também propôs um auxílio mensal de R$ 200 para trabalhadores autônomos. Com o aumento de gastos para combater o coronavírus, o rombo do governo também deverá ser maior.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, anuncia medidas emergenciais contra o coronavírus — Foto: Reprodução/GloboNews

A MB Associados estima que o déficit vai dobrar neste ano em relação ao previsto inicialmente: vai passar de R$ 103 bilhões para R$ 206 bilhões. Nesse ritmo, a dívida bruta do governo vai avançar de 76,9% do PIB para 80,8% do PIB.

Fonte: Globo

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