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A vitória de Javier Milei na Argentina

  • Texto originalmente publicado no site da CNTA (https://cntaafins.org.br/)

Independentemente do resultado, merece elogios o processo eleitoral argentino realizado no último dia 19 – houve respeito à democracia tanto durante, como após a votação. Destaque para o comportamento do candidato derrotado Sergio Massa, que logo anunciado o resultado, veio a público reconhecê-lo. Isso fortalece a democracia.

Quando se elege um governo, com a proposta de Estado Mínimo, como o de Javier Milei, na Argentina, o resultado já conhecemos. Também sabemos quem sofrerá as consequências. São aqueles de menor poder aquisitivo, pois são eles que dependem da estrutura do Poder Público para atender suas mínimas demandas.

Ao movimento sindical cabe agora se unificar e fortalecer a luta, já que ao lado da população mais carente ele também sofrerá ataques no sentido de enfraquecer as representações e reduzir os direitos da classe trabalhadora. Sabemos, pois sofremos este processo no Brasil com os governos de Michel Temer e Bolsonaro.

É o momento apropriado, também, para que o movimento sindical mundial faça uma profunda avaliação. Primeiro em cada país, e em seguida de forma ampliada para a América Latina, partindo para unificar no âmbito planetário, a luta em defesa da democracia e pela valorização da mão de obra, com garantia aos direitos trabalhistas e sociais.

Nós conhecemos muito bem a falta de limites e a ganância do capitalismo. A concentração de renda tem crescido de forma alarmante em todos os países, e a única forma de combater a fome, a miséria, o trabalho precário e valorizar a mão de obra é distribuindo a riqueza gerada pelo trabalho em cada país.

A concentração de renda impede o desenvolvimento, e proporciona desigualdade e intolerância. Isto tem levado a população a se desesperar, a ponto de acreditar em propostas absurdas, que não possuem a mínima possibilidade de melhorar a vida das pessoas que mais precisam de ajuda.

De forma mais ampla, o movimento sindical e social de todos os países precisa se organizar para, unidos, buscarem a salvação do planeta. Seja pela luta ambiental, dos direitos humanos, da democracia, da distribuição de renda, da valorização da mão de obra e pela justiça social.

Não podemos nos calar diante de um capitalismo que a cada momento está se tornando mais perverso com a natureza e com a maioria da humanidade. A sociedade precisa entender que os detentores do capital não mudarão de postura, se não pela organização e luta. Do contrário, o planeta não suportará tanta agressão, a ponto de se tornar um caos.

Pesquisas revelam que 1% (um por cento) das pessoas mais ricas do planeta são responsáveis por 16% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases do efeito estufa. O volume equivale à mesma quantidade emitida pelos 66%, ou 2/3 mais pobres da humanidade (5 bilhões de pessoas). Já o setor agro consome 70% da água, enquanto as indústrias consomem 20% e a população apenas 10%.

Não existe nenhuma campanha consistente no sentido de cobrar responsabilidade ambiental dos setores que mais consomem, mas há muitas direcionadas à população em geral, como se os últimos fossem os grandes consumidores.

Chegou a hora de cobrar os causadores das tragédias, que são as pessoas mais ricas do planeta. Nossos irmãos estão perdendo o pouco que possuem com as enchentes causadas pelo descontrole da natureza, e quem são os causadores dessas enchentes? Das altas temperaturas? Das inundações em determinadas regiões, enquanto em outras há estiagem e rios secando? São o 1% da população mais rica.

Hoje temos o pior capitalismo que se possa imaginar, porque ele é ilusório. As pessoas se iludem de que irão melhorar de vida, e como não conseguem, se desesperam e acabam optando por eleger um Milei ou um Bolsonaro da vida, com discursos irreais. Nada irá melhorar, porque o problema é o sistema e só quem pode mudar o sistema é a sociedade organizada.

Já passou da hora da OIT (Organização Internacional do Trabalho) chamar as representações dos trabalhadores e trabalhadoras, e realizar uma discussão profunda sobre a elaboração de propostas que globalizem as lutas em defesa das condições dignas de vida da classe trabalhadora, com preservação do planeta.

  • Artur Bueno de Camargo é presidente da CNTA (Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação e Afins)

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